Título original: Meninas fáceis
E aí, leitor de 15 anos? Diga-me cá uma coisa: é verdade que as meninas hoje transam muito? Quantas já deram em cima de você, fazendo você se sentir um frouxo se "não comparecer" quando ela quiser?
Atenção terapeutas de plantão: não me venham dizer que as meninas hoje em dia "evoluíram" e que querem meninos sensíveis, porque, para elas, meninos sensíveis só são bons para tirar sarro. E que fiquem fora da cama delas. Ou seria fora do carro delas? E aí, leitora de 40 anos, você acha esse papo muito vulgar?
Sinto muito, as meninas "evoluíram" e agora são senhoras dos seus desejos e isso basicamente quer dizer: são fáceis. Quer saber? Acho uma hipocrisia ficar lamentando que as meninas estejam transando por aí. Todo esse estardalhaço com relação "as pulseiras do sexo" é puro blá-blá-blá. Se as meninas estão transando por aí, é porque dissemos a elas que isso é legal, não?
Vejamos. Mas, antes, um reparo.
Repito o que já disse: não acredito que se faça melhor sexo hoje em dia, acho sim que hoje existe muito marketing, muito papo furado, muita mulher sozinha que se veste pra si mesma num ritual macabro de vaidade e... muita gente brocha.
A chamada "revolução do desejo" serve para ganhar dinheiro com publicidade, livros de sexo chique e para aumentar a sensação, em seres humanos reais, de que todo mundo está transando menos você.
Mães de 50 anos se deliciam em vender a imagem de si mesmas como máquinas de sexo. Na realidade, no silêncio de seu quarto escuro, são umas invejosas, que queriam ser como suas filhas: mulheres fáceis.
Professoras inseguras com seus corpos cansados, atônitas com a inutilidade última de toda sua inteligência diante da chacina que é a vida cotidiana, invejam as suas alunas deliciosas que desfilam pernas e seios por aí, dançando a dança do acasalamento. Sim, deveriam tê-las avisado que a vida se repete exatamente naquilo em que ela é miserável: medo, inveja, baixa autoestima e abandono.
Cursos chiques trabalham o corpo para que ele seja fácil de manipular na cama, no carro, no banheiro.
Teorias psicológicas e filosóficas empacotam a vontade de ser fácil em papel de presente fingindo que existe mesmo uma coisa chamada "sexo revolucionário". E aí, quando os padres fazem sexo com meninos, os revolucionários de meia pataca põem o rabo entre as pernas e se escondem porque não têm coragem de enfrentar o horror do sexo "livre".
Não existe sexo livre, existe apenas sexo sem amor.
Comédias de TV idealizam mulheres urbanas que transam assim como quem corre em esteiras aeróbicas (ou seriam "anaeróbicas"?), calculando o "tamanho" de seus homens, se gabando, assim como homens boçais, da quantidade de vezes que gozam.
Músicas nas festas das escolas e nos aniversários de crianças cantam a banalidade dos gestos sexuais, fixando os olhos vazados das meninas no desejo de crescer o bastante para serem fáceis. Programas infantis ensinam a vulgaridade como forma de liberdade corporal na frente das câmeras.
Programas "teens" de TV elevam ao grau de guru quem transa aos dez anos, contanto que use camisinha. Pedagogas, sob o signo de preparar para a vida, barateiam os corpos das meninas ensinando sexo fácil como se fosse sexo seguro.
Salvem as baleias, as focas, o verde, o planeta, os "baby monkeys", mas transem fácil.
A forma como o aborto é tratado (todo mundo é a favor, menos os "tolinhos") é prova de como o sexo e as meninas são artigo vendido às dúzias nas feiras de periferia. É isso aí: mulher fácil é mulher barata.
Tem mais mulher do que homem no mundo (não estou seguro dessa informação, mas todo mundo diz que sim, principalmente as mulheres solitárias) e, com a liberação delas, o preço ainda caiu mais. A melhor coisa que existe para um cara que quer uma mulher barata é que ela pague suas contas.
Alguém precisa parar de mentir e avisar para essas meninas que a vida é uma chacina cotidiana. Que o envelhecimento chega sem que você espere, que o mundo fica repetitivo com o tempo, que as pessoas ficam previsíveis e que sexo fácil é sempre sexo sem amor. Avisem a elas que o amor é raro, difícil, caro, duro de encontrar, morre fácil, porque é sempre mal-adaptado num ambiente mais afeito a baratas do que a seres humanos.
Enfim, que uma das lutas contínuas da civilização é contra a indiferença porque homens e mulheres não são especiais e existem às dúzias por aí, a gargalhadas, como bonecos de cera sem graça.
Postado originalmente na Folha de São Paulo por Luiz Felipe Pondé em 3 de março de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Acho uma tremenda hipocrisia os homens falarem que as mulheres se tornaram fáceis, que mulher tem que ser díficil, e por aí vai. Isso é um pensamento totalmente machista, e em pleno século XXI, com a mulher alcançando tanto espaço no mundo, não só no mercado de trabalho mas como em diversas áreas, isso se torna apenas antiquado e desprezível.
O que eu estou tentando dizer? Que as mulheres devem se adaptar ao sexo aberto, se entregarem aos desejos carnais e não preservarem o seu corpo? De maneira alguma!
O que eu quero dizer é que a ideia de sexo na sociedade está associada como diversão, prazer e conquistas, TANTO PRA HOMEM QUANTO PRA MULHER. Então não existe isso de mulher fácil, mas sim, existem homens e mulheres fáceis. Ou melhor, o que existe na realidade é o sexo banalizado.
Porém, não tem como fugir da sociedade machista, quando até mesmo muitas mulheres se comportam dando forças a isso. Assim como não tem como fugir da hipocrisia humana.
Se o cara quer uma mulher "díficil", que se valorize e saiba o que é amor, ele tem que no mínimo fazer por onde e ser assim também, para ser digno desta conquista.
Eu irei aprovar esse texto apenas se o autor não for adepto ao sexo fácil. Apenas se, caso uma mulher bonita e sensual se insinuasse a ele, ele recusasse. Aí sim. Caso contrário, to fora de mais hipocrisia e machismo!
Michelle, quem quer mulher difícil? Eu não. Só quero uma mulher honesta, que mereça ser amada. Mulher fácil pra mim é mulher difícil. As pessoas confundem ser "difícil" com ser inacessível, antipática, arrogante etc. Esse papo que você fala, todas falam, é marketing pessoal. A grande maioria da população nunca vai saber o que é um relacionamento sério, nem o que é amor. Isso é que é difícil de encontrar em uma mulher. E se os homens são galinhas é porque as mulheres querem assim. Elas nem sabem o que é ser mulher e nem imaginam que todo homem sonha em encontrar pelo menos uma que não seja fácil e nem difícil, mas que seja verdadeira e queira ser. A hipocrisia é de todo mundo, que se paga de romântico, mas quando dá vontade pega quem estiver disponível, justamente porque não tem alguém que seja verdadeiro. A maioria das pessoas querem alguém só pra si, mas não querem renunciar ao resto do mundo pra isso. E eu cansei de procurar a pérola, com tanta ostra disponível. É melhor comer as ostras sem pérola mesmo, porque acho que tá "difícil" de alguma ostra ter esta pérola dentro de sí, por fora todas são iguais.
Postar um comentário