quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Minorias, maiorias e o politicamente correto
"Fazer parte de uma “minoria”. . .
Uma parenta muito gentil e muito querida, em uma de nossas conversas culturais e políticas, no âmago de sua ironia, acabou por me chamar de “conservador militante”. E ao complementar isso, disse que seria hilário se ela me encontrasse numa boate gay. Confesso que o termo me incomodou. Talvez pelo fato de ser crítico do politicamente correto, dos aspectos odiosos dos chamados “movimentos de minorias”, ela creia que o conservadorismo seja um projeto que reintroduza as mulheres na cozinha, que fuzile os gays nas ruas e mande os negros à senzala. Acredito que ela não chegaria a tanto. Porém, o termo soou pejorativo, zombeteiro. Descobri, por uma simples frase irônica e provocativa, que também faço parte de uma minoria. Uma minoria que não possui ONG, não possui dinheiro, não possui espaço na mídia, enfim, que não é paparicado pelo governo. Sou o liberal-conservador, católico, branco e heterossexual!
Quem conhece meus escritos sabe que jamais preguei qualquer palavra de ódio às mulheres, aos negros ou aos homossexuais. Pelo contrário, precisamente por ser a favor deles é que combato os movimentos revolucionários que dizem defendê-los. Por defender a dignidade da mulher, deploro o feminismo raivoso e lésbico. Por defender o homossexual, denuncio a manipulação grosseira destas pessoas como massa útil do Partido Comunista ou de qualquer outro partido de esquerda. E por defender a sociedade brasileira mestiça, integrada e pacífica é que combato qualquer apologia de orgulho racial negro ou de qualquer outra etnia.
Por falar em boate gay, eu tenho grandes amigos homossexuais e já tive longas e interessantes conversas com eles. O que mais me chamou a atenção nos colóquios é que há um hiato assustador entre a vida do homossexual médio e o que pregam os chamados movimentos politicamente corretos. O mesmo se aplica ao negro e à mulher. O homossexual, o negro e a mulher, divinizados por esses grupos organizados, são figuras estereotipadas, idealizadas, literalmente inventadas.
Vi essa disparidade quando fui convidado por meus colegas a assistir, aqui em Belém, um evento cultural em uma Igreja Luterana, curiosamente chamada “Conversa de Preto”. O mal de certos elementos do luteranismo paraense é a Teologia da Libertação, com seu esquerdismo rançoso e diluído em slogans politicamente corretos. Apesar da fama de direitista malvado, sou amigo também desses esquerdistas. Quando chegamos à Igreja, encontramos velas acessas pela porta, como que querendo imitar um terreiro de macumba (se bem que a arquitetura da Igreja Luterana daqui lembra mais um templo pagão). Uma amiga que me acompanhava, ela mesma negra, ficou assustada com a visão aterradora (isso porque ela era adventista).
Quando vi a exposição de um tal “poeta de rua”, convidado a falar de um obscuro poeta paraense que escrevia verso e prosa com símbolos religiosos africanos, aquilo me pareceu artificial, falacioso, forçado. Alguns pseudo-intelectuais, metidos a exaltarem a “musicalidade”, a “mitologia” e a “espiritualidade” africanas, falavam da alegria do negro cantarolando lá na selva africana, quando o malvado branco europeu o tirou da paz da tribo e o inseriu na sociedade capitalista. Às vezes, eu pensava, cá com meus botões, que tipo de “musicalidade africana” é essa que jamais produziu um Mozart, um Bach ou um Bethoveen? Que tipo de mitologia é essa que nunca reproduziu algo similar ao mundo grego e uma mística religiosa que jamais redigiu uma página sequer do Novo Testamento? E mais: quem, em sã consciência, trocaria a sociedade capitalista pelo tipo de vida tribal africano? Alguns alemães da Igreja fitavam o palestrante, como se fosse uma criatura exótica. Pareciam sentir-se culpados por serem brancos, por serem europeus. E como que apiedados de si mesmos, aquela exaltação da chamada “negritude” aliviava suas consciências.
O tal “poeta de rua”, inspirado pela bajulação frenética do público, recitou uma poesia que falava da história de um rapaz que acendia uma vela para Deus, para o diabo e para os orixás, só para conquistar uma negra bonita. Aquela poesia disse muita coisa do mistério que abarca a miséria do mundo africano atual. Se há algo perceptível na mitologia e religião africana é a carência de pressupostos morais absolutos. O mal parece andar lado a lado com o bem. O prazer imediato do homem que deseja a mulher negra vale o preço espiritual de destruir sua própria eternidade, a concepção mesma do bem supremo em Deus. Ou pior: dentro de uma concepção tribal e animista, o bem não é um valor absoluto, e sim algo que satisfaça a pessoa de imediato, independentemente de suas conseqüências. É o mal civilizacional da cultura africana: por não crer em absolutos, em perspectivas eternas, e ao presumir que tudo é imediato, os negros não conseguem construir uma civilização em bases sólidas, não conseguem erigir valores ou instituições. A religiosidade da umbanda pode conviver perfeitamente com a macumba, sem que isso implique necessariamente contradições de princípios éticos e morais. Para um cristão, isso é inaceitável: o mal sempre será a negação do bem e nunca será igual a ele!
Aquela poesia me deixou sinceramente reflexivo, já que não estávamos numa universidade pública, mas numa Igreja. Que diabos alguém pode ver de elevado naquela mensagem? A minha amiga negra ficou profundamente chocada. Com sua sólida formação protestante, achou aquilo demoníaco, invertido, subversivo. De fato, seria a reação da maioria dos negros brasileiros se visse o espetáculo. Eu mesmo não reconheci ali nenhum negro, pardo ou mestiço que pudesse identificar naqueles estereótipos, salvo as criaturas marginais. Porque a maioria da população negra brasileira ignora ou simplesmente deplora a cultura religiosa africana. Ela é cristã, vive valores “europeus”, ainda que haja uma confusão doutrinária nesses princípios.
Contudo, a esquerda soube explorar muito bem as fraquezas da cultura africana. Inventou-se o mito da “negritude”: uma compensação racialista que pode descambar perfeitamente para o racismo, já que o valor da cultura não está em seus valores, porém, nas supostas origens étnicas ou na cor da pele. Mesmo a chamada “negritude” nem existe na África. O africano médio não reconhece o vizinho rival da tribo como seu irmão. Quem vê o negro como tudo igual é o homem de cultura ocidental média ou o intelectual radical. Pelo contrário, a África é um antro de tribalismo racista entre negros, com suas guerras literalmente genocidas. Tutsis e hutus se reconheciam como “negritude”, quando uns massacravam outros na guerra civil de Ruanda? Não se pode falar o mesmo das tribos islâmicas e cristãs do Sudão? E o que dizer então do massacre dos islâmicos sudaneses por islâmicos sudaneses, só porque pertenciam a tribos rivais? A “negritude”, sob determinados aspectos, lembra a odiosa ideologia nazista e o culto da supremacia “ariana”. A raça não é o elemento diferencial que determina o valor da cultura? Se a cultura africana vale algo porque é negra, o movimento negro está no mesmo caminho de Hitler. Recordemos, o nazismo é a ideologia tribal germânica. A diferença é apenas de cor da pele.
Por outro lado, dá pra perceber que a valorização que a esquerda faz da cultura africana é tão somente de fundo multiculturalista, como se a compaixão dos museus e dos antropólogos pudesse resgatar algum legado dos africanos. Ou, na prática, o multiculturalismo africanista é tão somente uma arma de contestação cultural contra a civilização ocidental e seus legados, alimentando divisões inúteis e inversão de valores entre a população. Pra que serve restaurar um culto pagão marginal, de baixo nível, senão para subverter a fé cristã vitoriosa? Pra que serve o culto racial africano, senão para fragmentar, gerar conflitos inexistentes sobre a mestiça população brasileira? Acaso os ateus marxistas vão virar macumbeiros? Se bem que existam muitos marxistas que vivem assim. Na tal “conversa de preto”, sinceramente, não reconheci nenhum preto. Reconheci sim, um ativista e bem comunista!
Essa idealização se aplica também aos homossexuais. Certo dia, eu conversava com um amigo gay a respeito de uma psicóloga evangélica que fazia tratamento de cura da homossexualidade. Para meu espanto, ele me dizia que a transformação de homossexuais em heteros é uma coisa muito mais comum do que se imagina. Aí ele me contou de casos de gays que acabaram se apaixonando por mulheres e se casaram, inclusive, abandonando a vida pregressa de homossexualidade. Isso me levou a pensar que a imutabilidade sexual dos homossexuais é um mito inventado pelo próprio movimento gay. Como tal círculo se respalda na sacralização da homossexualidade, é claro que os gays militantes não vão questionar o elemento unificador de sua identidade grupal.
O homossexual médio, o homem real, fora das idealizações histéricas dos ativistas sociais, é um ser visivelmente angustiado com sua escolha. Ele sabe, no seu íntimo, que transgride um determinado conjunto de regras e de conduta e que jamais será maioria. Quando o falecido deputado Clodovil falou que todo homem nasce de uma relação heterossexual, foi de uma honestidade cortante, destruidora, e que reflete uma boa parte do pensamento dos homossexuais. Isso demonstra a perfeita consciência das próprias limitações. A maioria deles só quer viver sua vida sem ser incomodado. Isso porque uma parte é insatisfeita com sua própria sexualidade e muitas vezes quer mudar de vida, uma vez que existe uma compulsão que é, muitas vezes, mais forte do que eles. No entanto, o ativismo homossexual transformou a conduta gay num dogma. Exige a prisão de quem questione, conteste ou mesmo rejeite a homossexualidade no plano da conduta. Inclusive, a psicóloga evangélica foi ameaçada de ter seu oficio cassado pelo conselho de psicologia. Não sem razão, em uma reportagem na Revista Veja, ela falou que o movimento gay se assemelha ao movimento nazista. Perfeita verossimilhança histórica!
O mesmo princípio se aplica à mulher real. Uma coisa que percebo nas mulheres fora do mundo feminista é uma extrema carência de relações afetivas. Muitas jovens, intimamente, sonham em se casar, ter família, ter filhos. O problema mesmo é que há uma disparidade entre o que elas se tornaram e o que os homens ainda são. Há um problema de identificação dos papéis sociais do homem e da mulher que faz com que tenham linguagens diferentes, incompatíveis. A família atual é carente de homens como referência, carente de pais, carente de maridos atuantes. As mulheres bem sucedidas, muitas vezes são frustradas, porque não encontraram esse homem compensador. E o que as feministas fazem para resolver o problema? Nada, absolutamente nada! Pelo contrário, abrem o abismo entre os sexos, demonizando o macho como objeto de todos os problemas femininos. Querem dispensá-lo, jogá-lo na lata do lixo da história. O marido, pai ou amante ausente é a maior frustração da mulher moderna. É claro que há certa dose de responsabilidade nos homens, desacostumados demais aos compromissos, indolentes, faltosos de sua própria autoridade como pais de família ou maridos ou mesmo incapazes de acompanhar essa mulher dinâmica e empreendedora. Todavia, é a mulher que conserva a casa, e nestes tempos de condenação ao macho, as feministas não ajudam nem um pouco. Em outras palavras, a falta de um homem dentro de casa, de uma identificação masculina, faz da mulher um macho imperfeito; faz com que os filhos homens se tornem efeminados, também machos imperfeitos. Tamanha é a inversão de valores de nossos tempos!
Porém, essas “minorias” (e não falo do grosso dos homens, mulheres, negros e homossexuais e sim de seus militantes), por assim dizer, estão bastante protegidas. A grande maioria das pessoas continua desamparada, sem voz pública, sem ação, apática, sem representatividade, ignorada pelo Estado e pelos políticos. Mas falta falar de uma outra “minoria” social, sexual e racial, que não é bem minoria, é uma maioria na sociedade: são as hordas de cristãos, brancos, católicos e heterossexuais. Esse grupo de pessoas não tem voz mesmo! É atacado na mídia, nas universidades, nas escolas, como o malvado por excelência. É acusado de escravizar os negros, matar gays nas praças, transformar as mulheres em servas dos maridos, de oprimir outras etnias e culturas, enfim, é um “nazifascista” de primeira!
Minha querida parenta me chamou de “conservador militante”, com certa desconfiança. E não me conste que ela seja de esquerda. E pelo fato de ela propor a cena hilária da boate gay, talvez presuma que eu queira fechar todos os pontos de encontro homossexuais. Militância, por assim dizer, é monopólio da esquerda. O conservador é uma “minoria” que não tem palavra. E tal como muitos, sou parte de uma gente que é mais discriminada do que o movimento negro, gay e feminista. Não terei ONGs, não terei subsídios governamentais, não terei espaço nas universidades e escolas, não terei colunas nos jornais, enfim, serei até banido da sociedade. Querem até a minha prisão! O conservador, na atualidade, é a “minoria” por excelência, a maioria das maiorias oprimidas!"
Postado por Conde Loppeux de la Villanueva
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Um comentário:
As pessoas, na busca por igualdade, acabam se diferenciando mais ainda... talvez porque no fundo queiram ser "mais" que as outras, pra compensar os anos de repressão; ou seja, não buscam mais igualdade, e sim uma posição superior.
Bjos da Hibana ^^
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