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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Força transcendental, a verdadeira força interior




Vejo muita gente se queixando de dificuldades, todo o tempo.
Alguns poucos, principalmente em redes sociais, onde suas vidas são frequentemente expostas, tentam manter uma aparência de constante alegria e contentação com a vida. É como se criar uma aparência de sucesso fosse transformar a realidade. Em muitos casos, o pensamento positivo nada pode fazer para reformar a verdade. Verdade essa, é que, no campo prático, vejo muito mais pessoas se queixando de sua existência, do que sendo verdadeiramente grata por ela.

Primeiramente cabe esclarecer que não acredito de maneira alguma nessas repetitivas reinvindicações de um suposto "direito de ser feliz" que vejo ser objeto da luta de tantos. Ora, felicidade até onde eu sei, é um sentimento passageiro, é a definição emocional de um momento ou de um lapso temporal entre outros tantos estados que compõem nossa existência. Não é porque um estado é aparentemente mais aprazível e prazeroso que o outro que devemos focalizar nossos esforços, e muito menos reinvindicar o direito de desfrutar daquilo todo o tempo. Me pergunto se isso é sequer saudável; visto que grande parte das pessoas que conheço que vivem a buscar a tal "felicidade" (como algo concreto e eterno), são exatamente as que encontram maiores desgostos e desilusões durante sua caminhada.

Eu me contento apenas em seguir meus objetivos, me aprimorar como ser, e agradecer a Deus pelos momentos de felicidade que por ventura se desenharem em minha vida. Jamais perderia meus preciosos momentos lutando para conservar um sentimento ou uma aparente contentação psíquica com qualquer coisa que seja.

Agora voltando à questão do sofrimento e da dificuldade de sobrepujá-lo (veja bem: não creio que felicidade ou alegria sejam antônimos de dor ou sofrimento; pois como já disse, existem incontáveis outros estados da alma entre esses dois extremos).
A meu ver, a primeira condição básica para se afastar de sofrimento, é naturalmente não criá-lo. Dessa maneira, vejo como fundamental que se percam todas as ilusões em relação à vida e às pessoas. Quanto mais baixo for o foco, menor será a motivação para nele perseverar, e se por acaso, vier a atingí-lo, menor serão os resultados da mesma maneira.

Para tanto, cito agora um dos maiores poetas brasileiros do século passado, falecido recentemente; Bruno Tolentino, que dizia que a vida terrena é apenas um rascunho da vida eterna que será escrita futura e indefinidamente. De forma que aqueles que dão muita importância a benefícios que pretendem obter nesta vida, irão perder força, terão maior facilidade em serem enganados e ludibriados por favorecimentos diversos, tendo grandes chances de verem suas bases morais e seu real objetivo serem derrubados pelo sistema de coisas que sempre reinou por aqui.

Quando a doutrina cristã diz que os maiores inimigos do homem são o mundo, o diabo, e a carne, se refere à carne exatamente como a tendência que temos de achar que o que nos afeta sensorialmente é o mais importante, e deve ser o centro de nossas atenções e o foco de nossas forças. Quando uma pessoa que não sabe discernir sua vontade da realidade objetiva, ela se torna como um soldado cego em uma batalha, que vai atacar toda e qualquer coisa que seus sentidos (limitados) poderão captar, e não necessariamente o inimigo real. Ou seja: a pessoa que tem como objetivo de nada, nada além do acúmulo de riquezas, vai enxegar toda e qualquer forma de diminuição do seu patrimônio a menos que para benefício próprio, como algo essencialmente mal e que deve ser evitado (deixando de lado, a caridade por exemplo). Outra pessoa que tem como meta de vida um grande amor, vai se prender sempre em questões emocionais e enxergar relacionamentos afetivos como a coisa mais importante da vida, deixando de lado muitas vezes a busca pela verdade, o conhecimento transcendental, o desenvolvimento de todos os outros campos da vida, etc.

É nesse aspecto que a vida voltada para causas mais elevadas sempre produziu as mais dignas biografias da humanidade. Tirar os olhos somente de si é a primeira ferramenta para que o indivíduo seja capaz de superar seus próprios limites e despertar-se como agente de conhecimento e ação divina. É aí que as verdadeiras experiências e sensações que trazem a paz, a temperança e a sabedoria terão caminho pavimentado para atingir a essência do ser, e a força interior, que antes parecia esguia e claudicante, encontra forças onde sequer sabia que existiam.

Nunca é cedo para um reexame dos labirintos de si mesmo, buscando o que pode ter se perdido com o passar dos anos, ou mesmo nunca ter sido descoberto.

Um feliz ano novo (realmente novo) para todos!



domingo, 18 de dezembro de 2011

O Homem Light


-Uma Vida Sem Valores



Qual é o seu perfil psicológico? Como poderia ser definido? Trata-se de um homem relativamente bem informado, porém com escassa educação humana, entregue ao pragmatismo, por um lado, e a bastantes lugares comuns, por outro. Tudo lhe interessa, mas só a nível superficial; não é capaz de fazer a síntese daquilo que recolhe e por conseguinte, foi-se convertendo num sujeito trivial, vão, fútil, que aceita tudo mas carece de critérios sólidos na sua conduta. Nele tudo se torna etéreo, leve, volátil, banal, permissivo.

(…)

Não há no homem light entusiasmos desmedidos nem heroísmos. A cultura light é uma síntese insípida que transita pela classe média da sociedade, sem excitantes… tudo suava, ligeiro, sem riscos, com a segurança pela frente. Um homem assim não deixará marcas. Na sua vida já não há revoluções, dado que a sua moral se converteu numa ética de regras de urbanidade ou numa mera atitude estética. O ideal apático é a nova utopia, porque, como diz Lipovetsky, estamos na era do vazio. (Enrique Rojas, O homem light - Uma vida sem valores, pp. 7-10)"


Vida sem valores é a expressão que melhor traduz o tipo de homem que surgiu nos últimos anos na sociedade ocidental de bem estar, que melhor define o “homem light”. Enrique Rojas, médico humanista, retrata e denuncia neste seu livro (El Hombre Light) aquele homem que magistralmente assim apelida de “light”. Light é a palavra mágica que está na moda e com a qual se identificam certos produtos (tabaco, bebidas, alimentos). Apresenta-o como um indivíduo materialista e hedonista, como um ser que tudo relativiza na ânsia de alcançar, sem mais, a meta por si traçada de bem-estar e prazer material.

No “homem light”, diz Enrique Rojas, há prazer sem alegria – nele se vê um homem intrigado e atraído por muitas coisas, mas sem vincular-se a nada.
E, por isso é infeliz e inseguro, estando longe daquele homem sólido que busca a verdade. O “homem light” procura o absoluto do seu ponto de vista, convertendo-o em relativo – é vazio, não tem fundo. Ser rico, ganhar muito dinheiro é o mais importante, é a melhor conta de apresentação nos ambientes “light”. Este débil homem abraçou a permissividade, fazendo dela o seu código ético e que vai desde a tolerância ilimitada à revolução sem finalidade. E essa permissividade, como acentua Enrique Rojas, revela-se em vários campos, designadamente no campo sexual, em que se chama “amor” a cada relação superficial e passageira, em que se confunde amor e sexo, dizendo-se quando se vai fazer sexo, que vai fazer amor – sexualidade vazia, idolatria do sexo, amor de rebaixas, amor light. Como sair de tudo isto? Responde o autor que o deixar de ser pessoa light só pode ser alcançado dando um passo da imanência para a transcendência, deixando o individualismo e o materialismo.

Necessitamos de um modelo de identidade para o homem das décadas vindouras, que será profundo, sábio, forte moralmente (a moral cristã é o melhor vector para a realização da eterna vocação transcendente do homem) e que terá coerência na sua vida.
Em suma, Enrique Rojas mostra-nos neste seu livro as chaves psisológicas do “homem light” e as vias de saída para a superação do grande vazio existencial que produz a falta de valores e de ideias.


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Resumo:
~resenha do livro de Enrique Rojas

O HOMEM MODERNO – A LUTA CONTRA O VAZIO
Enrique Rojas



O fim de uma civilização em que se assiste a derrocada dos sistemas totalitários aponta para a geração do homem light, que nada mais é do que a criação de um indivíduo superficial, leve, volátil, banal, permissivo. O viver bem a qualquer custo passa a ser a nova tônica do comportamento. De repente, o homem se vê frente-a-frente com o drama das drogas, a marginalização de jovens, greves dos trabalhadores, dentre outros fatos. Tudo isso contribui para que o homem se torne frio, não acreditando em quase nada, deixando para trás os valores transcendentes. É um homem sem vínculos, descomprometido e indiferente. Adepto da permissividade, o homem moderno vai trilhando seus caminhos, sem proibições, nem territórios vedados ou limitações, ele arrisca tudo, é vítima do consumismo.

Esse perfil do homem moderno, traçado por Enrique Rojas, mostra que o ser humano foi rebaixado a objeto, repleto de consumo e bem-estar, cujo fim é despertar admiração ou inveja. Com esses valores, o homem vai se tornar mais vulnerável e sem firmeza. O autor acredita que o homem moderno vai passar por um sofrimento para iniciar uma mudança radical que o impulsione a um caminho mais digno e humano. Com todos esses predicados, o homem moderno vai montando uma sociedade desorientada, perplexa, desenganada, cética, à deriva, mas orgulhoso e radiante por caminhar para trás. Este protótipo do homem livre nada mais é do que um ser piorado, degradado. Muitos homens de hoje não sabem para onde vão, estão perdidos e desorientados. Este estado de coisas aconteceu por causa de vários filósofos como Sócrates, Camus, Descartes, Pascal, Kant dentre outros, cujas vidas serviram de exemplo de fracasso total para seus seguidores. Nesta crítica, o autor esqueceu de dizer que os filósofos que ele citou foram grandes pensadores e trouxeram à humanidade muita evolução, como Sartre, Kierkegaard, Unamuno e outros.

(...)

Rojas faz uma diferença entre o homem moderno e o homem sólido. O primeiro é aquele que mostra uma curiosidade incessante, mas sem bússola e mal dirigida. Já o homem sólido busca a verdade, para que esta o faça avançar em direção ao crescimento pessoal. Mais adiante, o autor defende a idéia de que o homem deve combater o cinismo, mediante convicções firmes e não jogar-se ao consumismo. A partir dessas considerações, enfoca-se o niilismo, enfocando assuntos como a liberdade, relativismo e cinismo. O niilismo, assim como relativismo e o ceticismo, tem um tom devorador, desiludido, indiferente à verdade por comodismo e por não se aprofundar em questões substanciais. A felicidade é a realização mais completa do ser humano e indica que o ser humano que a possui se encontrou de fato e tem um projeto de vida coerente. Já o homem moderno tem uma ausência quase absoluta de cultura, pois só procura aquilo que tem relação com sua vida profissional, com assuntos triviais como a vida alheia, as viagens e os episódios nela ocorridos.

No que se refere ao amor humano, ele acredita que uma das formas mais representativas dele é o que se pratica entre homem e mulher. Essa forma de amor é um sentimento de aprovação e afirmação do outro, ou mais precisamente, o que o homem necessita na vida. Na relação sexual, sem amor autêntico o outro é um objeto de prazer, leva a um vazio gradual que desemboca no tédio. Os vícios do homem moderno são muitos, como a busca por psicoterapeutas, reflexo das pessoas que sofrem de crises de identidade, ou mesmo, os vícios de perder peso, buscando-se o emagrecimento como meta, dentre outros. Todas essas formas de “fugas” são vícios do consumo, o que traduz uma clara insatisfação de tudo. E assim, vão se somando as várias condutas do homem moderno, que adota uma vida ligh, que consiste numa vida que conduz a uma existência vazia. O ser humano passa a ser narcisista, concentrado em si próprio, em seu corpo. Este homem light viveria sem ideal e sem objetivos transcendentes.

O homem moderno não procura a religião, mas também não é ateu. Ele construiu uma forma particular de espiritualidade segundo sua própria perspectiva. É ele quem decide o que está bem e o que está mal e termina fabricando uma ética à sua medida. Com essas considerações fica claro que o homem moderno distanciou-se da religião por não acreditar na sua eficácia. Poderia se dizer que o homem light virou cético, duvida de tudo, trata os outros como objetos, tem no materialismo e no consumismo suas formas de vida.

Todo este estado de coisas conduzem ao cansaço da vida e o homem fica fraco, extenuado, lânguido, uniforme com alguma coisa nebulosa coberta por um tom cinza. Esta é a psicologia do fracasso, na qual o homem navega cada vez mais frágil, indiferente e permissivo e sem rumo. Diante das diversas situações que o homem atravessa, ter vontade própria é um dos objetivos primordiais e que auxiliam o homem a chegar mais longe. As soluções para o homem moderno passam pela recuperação do humanismo. Mas será que o humanismo resolveria o problema? Nessas considerações há uma busca aos valores do passado, às raízes do pensamento humano, como as escolas gregas, romanas e judaico-cristãs. É fácil dizer que o homem vai mudar adotando em seu interior a sabedoria clássica, mas é preciso observar que muitos conceitos de filosofias antigas já estão superados e não se adaptam mais atualmente. É preciso entender que o homem moderno quer mais, quer conquistar, quer extrapolar fronteiras e qualquer sugestão de melhoria deve enfocar uma reconstrução dos valores e isso exige muita disciplina, coisa bastante difícil atualmente, pois o ser humano ficou cínico, pragmático, pensa uma coisa e faz outra diferente.

Depois de mostrar um cenário sombrio para o homem moderno, há que se fazer uma terapia, que consiste em reformular a vida, colocá-la em ordem e aplicar uma vontade firme para realizar o propósito de aproveitar a vida com empenho inquebrantável.

Concluindo, a obra de Rojas fala da falta de valores que cercam o homem moderno, criticando veemente todos os aspectos que o levam ao vazio, apontando caminhos em que a felicidade, o amor e outros valores precisam fazer parte de sua vida. Neste sentido, a obra é mais uma tentativa de fazer o homem mais feliz interiormente, com espírito de luta, garras e firmeza nos objetivos. Contudo, é contraditório dizer que o homem deve fugir do culto à novidade, ou que a religião deve fazer parte de uma renovação do homem moderno. Ora, se o homem fugir à novidade, ele vai ficar embotado e vítima do tradicionalismo que pouco progresso trouxe à humanidade. E a religião serviu para condicionar o homem, não permitindo que ele abra seus horizontes. Desse modo, a reconstrução do homem moderno é trabalho profundo, exige não só a disciplina, mas tudo o que ele puder usar em prol do amor, felicidade, solidariedade, respeito aos direitos humanos, não-violência, nem busca pelas drogas.