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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Individual ou coletivo?


Essas são duas concepções que embasam as visões de mundo no aspecto político atual - ou você confere importância ao indivíduo para que a dignididade e a liberdade constituam a organização social coletiva; ou suprime essa noção e cria uma de coletividade alheia ao indivíduo; onde ele se torna apenas um instrumento da realização coletiva.

Não é difícil relacionar essas concepções das visões de direita e esquerda, de conservadores e liberais. Temos por princípio conservador a autonomia e a dignidade humana, direitos inalienáveis, bem como a propriedade privada e a livre iniciativa; pilares sem os quais (na visão conservadora) não se pode erigir uma sociedade organizada e justa. Já para os adeptos do coletivismo e do materialismo, o indivíduo deve ser suprimido até desaparecer, para que desse substrato emerja uma sociedade ideal, igualitária.

A noção da valorização do indivíduo tem sua raiz na grécia antiga mas é colocada sob os holofotes com o advento do cristianismo; que coloca a concepção humana como ato estritamente divino e merecedor de proteção e direitos desde a sua concepção. É através da valorização do indivíduo e seu religamento ao divino que os frutos e virtudes aparecerão e permitirão que a sociedade se estruture, através da família.

Por outro lado, a negação do "eu" (não confundir com negação do ego), tem raízes no pensamento comunista pensado por Marx. Para ele, os pensamentos, ações e até mesmo necessidades básicas humanas são fruto da guerra de classes, sendo definidas desde o nascimento pela sua condição social. E a única forma de transcender essa disparidade seria o fim das classes, através da vitória dos proletários, que se tornariam a classe dominante, acabando assim (acredite se quiser), com todo e qualquer conflito humano. É nesse aspecto que a noção de indivíduo deve ser negada em detrimento do coletivo. Não seríamos mais seres individualmente designados e formados, mas uma massa amorfa dentro de uma classe e de um sistema econômico.

Que valor teria então uma vida humana, diante de tamanha utopia revolucionária que seria desenhada nesse futuro (in)certo? Ou que seja; uma dezena, uma centena ou centenas de milhões de vidas? Se esse é o prelúdio para que a utopia da igualdade absoluta seja alcançada, nenhum preço seria alto demais, certo?

É com essa certeza religiosa de um paraíso futuro (e indeterminado) sobre a terra que se formaram os governos mais sanguinários que a história já testemunhou. E é a incitação do ódio, da revolta e do descontentamento, usados como combustível para acender a chama que culminaria na revolução. É a crença no poder criador do mal; no fato de que fomentar a maldade produzirá bondade e justiça.

Surge assim, a separação clara entre aqueles que buscam a manutenção de valores universais imutáveis e os que procuram subverter a ordem das coisas, crendo ter em sua mente a fórmula redentora para todo o mal que assola o mundo. Esse é o embrião do maior male que enfrentamos na atualidade: a mentalidade revolucionária. É a ilusão que o indivíduo incute na própria mente de que porta uma verdade superior que ao ser implantada livrará o mundo de seus males. Uma contradição absoluta entre o dogma cristão de que a salvação virá pelas mãos do Criador, para todos aqueles que O buscarem e seguirem; que o papel do homem é mudar a si mesmo e não ao mundo.

Esses são alguns dos pontos abordados num diálogo hipotético construído pelo Dr. Peter Kreeft em seu livro "Sócrates Encontra Marx"; desconstruindo uma série de contradições lógicas, distorções históricas, vícios de compreensão e outras mazelas que acometem a mente de todo aquele que tenta compreender o mundo à partir de si mesmo, dentro de suas limitações, não se abrindo para o transcendente e o metafísico.

E aqui está um dos meus trechos favoritos dessa obra:

SÓCRATES: Idolatras o "nós" e negas o "eu"; no entando o "nós", a sociedade, as massas - sim, mesmo o proletariado - acreditam no "eu" e não em tua filosofia que nega o "eu" em prol do "nós". Apenas alguns poucos indivíduos da elite, apenas os letrados, os alienados, os desarraigados acreditam em ti. As massas se compõem de camponeses supercticiosos, de tradicionalistas religiosos, de velhos e antiquados conservadores como eu. Eles temem a sua revolução.

MARX: É porque não sabem o que é melhor pra eles - e é por isso que precisam de meu livro e por isso que eu o escrevi.

SÓCRATES: Sabes o porquê de eles temerem a sua revolução?


MARX: É claro: porque são conservadores.

SÓCRATES: E sabes por que são conservadores?

MARX: Porque são estúpidos.

SÓCRATES: Não, porque são felizes.

MARX: Isso é uma baboseira completa.

SÓCRATES: Vejamos. Por que eles são chamados de "conservadores"?

MARX: Porque se opõem à mudança.

SÓCRATES: E por que eles se opõem à mudança?

MARX: Porque querem conservar a ordem antiga.

SÓCRATES: Certo. Agora, nós buscamos conservar as coisas que nos fazem felizes ou as coisas que nos fazem infelizes?

MARX: As que nos fazem felizes.

SÓCRATES: E nós buscamos mudar as coisas que nos fazem felizes ou as coisas que nos fazem infelizes?

MARX: As que nos fazem infelizes.

SÓCRATES: Portanto, os conservadores, por definição, são felizes; eles são conservadores porque são felizes. Já os radicais, por definição, são infelizes; eles são radicais porque são infelizes. Com efeito, alguns deles são tão apoquentados que tudo o que desejam é destruir tudo o que vêem e escrever palavras apocalípticas, como "tudo o que existe merece perecer".