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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Como a Religião e a Ciência se fundem aos olhos de um gênio

Com a explosiva difusão da cultura cristã/protestante, novos incansáveis debates tomam lugar entre seus entusiastas, especialmente quando ideologias e cosmovisões físicas e metafísicas entram em pauta. Geralmente o maior ponto de impasse nesse tipo de questionamento é a exclusão da ciência pela religião e vice-versa.

Acontece que todo aquele que nega a existência de um plano maior, ou mesmo aquele que só crê no imaterial, fecham sua mente e compreensão para possibilidades e realidades sobremaneira importantes, acorrentando o infinito à simples compreensão empírica, ou fechando as janelas da alma para o divino, pelo simples fato de sê-lo muitas vezes inexplicável e imensurável.

Muito se diz sobre o equilíbrio entre dois pontos, sobre o perigo dos extremos, tanto para o solipsismo puro quanto para o imanentismo totalitário. O que é de se surpreender é que tantos deixem essa sensata posição de lado na hora de abraçar inteiramente a religião ou a ciência. Mas não é isso que acontece em algumas das mentes mais brilhantes que por esta terra caminharam. Cada dia mais me soa razoável que a sinergia entre os dois campos é a melhor forma para evitar o disperdício da entropia intelectual.

É nesse sentido que transcrevo aqui uma parte do livro "Einstein - O Enigma do Universo", escrito pelo filósofo e educado brasileiro Humberto Rohden, que teve o privilégio de conviver com o gênio alemão e ter abordado em sua obra um dos aspectos mais misteriosos da personalidade de Einstein: a intuição cósmica e os processos heurísticos usados pelo cientista para descobrir as leis fundamentais do Universo. Aqui vemos um ser humano fantástico, que vai muito além do renomado e brilhante cientista que o mundo conhece em diversas proporções, mas um ser humano com consciência espiritual, que apesar de ser considerado ateu por muitos teólogos, demonstra uma incomum sensibilidade e consciência criadora:






"Inúmeras vezes foi Einstein solicitado por pessoas de todas as classes para dar uma síntese compreensiva do que ele entendia por Relatividade - e nenhuma vez Einstein explicou a ninguém o que era Relatividade.

O que ele afirma sempre de novo em seus livros e em cartas é que a Relatividade não é objeto de análise intelectual, e sim intuição cósmica - e sobre intuição, ninguém pode falar sem entrar em conflito consigo mesmo. Paulo de Tarso diria que a intuição são os árreta rémata, os "ditos indizíveis".

Assim, como o místico, que sabe o que é Deus, não pode falar de Deus, do mesmo modo o matemático, que sabe o que é Realidade, não pode falar sobre Realidade aos que só pensam e falam em termos de relatividade.

A Realidade é o Absoluto - o Abstrato - e falar só se pode de facticidades relativas concretas. As facticidades relativas existem - mas a Relatividade absoluta é. O Ser não é objeto dos sentidos empíricos e do intelecto analítico.

A Realidade, quando pensada, é adulterada. Quando falada, é duas vezes adulterada. E, quando escrita, é três vezes adulterada.

Infelizmente, o homem tem de pensar, de falar, e até de escrever - que são males necessários.
A verdade genuína não pode ser pensada, falada, escrita - ela é eternamente silenciosa, anônima, amorfa, incolor.

Se Deus não fosse a verdade absoluta não seria ele o Eterno Silencioso, o Anônimo, o Amorfo, o Incolor.

Quanto mais o homem se aproxima de Deus, mais silencioso se torna, mais anônimo, mais amorfo, mais incolor.

Tudo que se pode pensar, que tem nome, forma e cor, pertence ao mundo dos relativos, mas não ao mundo do Absoluto.

Tudo o que é relativo é como um reflexo no espelho bidimensional de tempo e espaço. O Absoluto está fora de tempo e espaço, no Eterno e no Infinito.

O nosso ego-empírico só conhece as facticidades relativas no espelho ilusório de tempo e espaço - nada sobre a Realidade verdadeira.

O nosso Eu cósmico sabe da Realidade, e a saboreia - mas não a pode pensar nem dizer.
A Realidade é impensável e indizível.

O homem da silenciosa Realidade é o único homem realmente feliz. E, por vezes, é tão grande a sua felicidade que ele resolve pensar, falar e até escrever, porque toda a plenitude transborda irresistivelmente.

E esse transbordamento da plenitude beneficia os outros - suposto que esses tenham receptividade para receber algumas gotas daquela plenitude."

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Vaidade de vaidades; é tudo vaidade...


QUANDO A VAIDADE, A AMARGURA E A PLATÉIA ENLOUQUECEM ATÉ GENTE COM POTENCIAL PARA O BEM...




"Minha mulher estava lendo uma revista evangélica que me é enviada e o fazia em estado de perplexidade ante o artigo de uma pessoa considerada séria, e que dizia que apesar de o Neo-Pentecostalismo ser a expressão mais completa da total ausência do Evangelho, todavia, dizia ela, tem-se de admitir que tais movimentos têm promovido, com suas teologias de sucesso e prosperidades, um espírito de ascensão social, o qual, é inegavelmente positivo, segundo ela; para depois concluir que quem se opõe a tais coisas, sejam pessoa criticas, negativas e sem Graça e Misericórdia.

Então Adriana me leu o texto da revista...

Ao concluir disse mais ou menos o seguinte [com palavras e modos dela, que não são fáceis para mim o reproduzir com exatidão]:

Mas esta pessoa aqui não é séria?... Como ela pode estar tão vendida assim?... O que ela está fazendo é um desserviço ao Evangelho... Ela está jogando pra platéia... Está corrompendo a consciência dos frágeis... Ou não entendeu o Evangelho ou está em engano...”

Achei patético também... Deu-me pena...; mas depois muita compaixão.

O que a pessoa dizia era que se o fator sócio-econômico mostrar indicadores de ascensão social, então, mesmo que seja algo feito em nome de Jesus, mas que seja a própria antítese do Evangelho, pelo fenômeno do estimulo e resultado de sucesso no mercado [...]; sim, por tais realizações o anti-evangelho estaria justificado [...]; enquanto os que acusam tais coisas de serem os piores inimigos da Cruz de Cristo justamente por falarem em nome de Jesus aquilo de Jesus nada tem, são vistos como os negativos e sem Graça de Deus na vida.

O que a pessoa de fato dizia, simplificando, é que o critério mundano de ascensão sócio-econômico, tem supremacia em importância sobre o Evangelho; e, com isto, afirma também que o eixo de seu amor mudou da eternidade para o mundo, para o mercado, para Babilônia, em sutil abandono do amor pela Nova Jerusalém; ou seja: deixou de dizer seja feita a Tua vontade assim na Terra como no céu; e passou a dizer: Que o padrão da Nova Zelândia e do 1º mundo nos alcancem a qualquer preço, ainda que seja pela via de um estelionato para com Jesus e o Evangelho.

Ou seja: aquilo que é importante diante dos homens e que Jesus disse que é abominação diante de Deus, para ela passou a ser o critério superior para determinar se algo é positivo ou negativo, sem entender que a inversão de tal valor corrompe o ser, arranca toda esperança da glória de Deus do coração, e, literalmente [...] enterra a pessoa no pó da terra; e, sem que ela note, tal hiper-valorização dos fenômenos terrenos, acabam por expulsar os últimos resíduos de esperança do coração...

Um dia a pessoa acorda e já não é...

E mais ainda sobre o artigo da revista cristã:...tudo o que a pessoa dizia era em nome do Cristianismo, e nunca em nome de Jesus; sim, nunca em nome do Evangelho; e por uma razão: lá no fundo ela sabe que é impossível.

A gente pode nascer filho de Deus, e, de repente, sem sentir, virar neto do 13º Apóstolo, o Pai do Cristianismo, o Vovô Imperador Constantino. Esse é o poder corruptor da Religião [...]; e que eu conheço muito bem; com certeza bem mais do que ela; e há muito mais tempo e em intensidade e profundidade que ela não sonha sequer avaliar...

Com muito desejo de que a verdade não gere amargura, mas quebrantamento sincero [...] — desejo a tal pessoa e a todo aquele que advogue a mesma causa irreconciliável com Jesus e com o Evangelho, que a Palavra da Vida prevaleça sobre a Vida sem Palavra, mas apenas com moralismos, de um lado, e, de outro, com um desejo imoral de ver positividade onde Jesus só veria miséria, é que me despeço com amor Nele, "

Caio

10 de novembro de 2009

Lago Norte

Brasília

DF

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

And You & I



Olhar, atenção, conversa, carona, pulseira, perfume, desculpa, contato, reunião, admiração, atração, confusão, resolução, prioridade, expectativa, viagem, avós, naturalidade, mudanças, afeto, compatibilidade, alegria, estrelas, frio, cobertas, distância, saudade, aniversário, surpresa, felicidade, descobertas, pizza, sala, febre, pedido, começo, paz, sabedoria, elogio, cumplicidade, respeito, chocolate, horários, culto, filme, livros, sono, música, cabelo, alpino, almofada, cheiro, carinho, marcas, sensibilidade, saudade, intimidade, barriga, cócegas, apertar, sentir, família, cachorro, orgulho, sorriso, unidade, acampamento, pescaria, fogueira, amizades, humildade, serenidade, aliança, escolha, consagração, lealdade, abraço, praça, palmeiras, casa, jardim, sonhos, planos, estudos, fonte, molhar, torre, mirante, passeio, lua, dúvida, evento, decisão, admiração, contato, respirar, planos, presentes, meses, esperança, distância, vazio, oração, reflexão, palavras, sentimentos, lágrimas, falta, futuro, Deus, mudança, atitude, vontade, tempo, fé...







And you and I climb over the sea to the valley,
And you and I reach out for reasons to call on.........

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Modernidade, talento e genialidade







É incrível como alguns dias de abstenção intelectual podem transformar significativamente nossos processos mentais, condutas e pensamentos. Ao mudar drasticamente de rotina, os livros reflexivos deixaram de me fazer companhia por algum tempo, Pouco tempo se for considerar o período em que andávamos juntos, e com essa mudança, uma floresta com tantos frutos de diversas cores, sabores, fragrâncias e texturas rapidamente deu lugar à aridez do comum, a rasura do simples, ao horror do pensamento massificado.

Ao bem aproveitar poucos minutos nessa tarde, ao ler duas ou três páginas de algo rico, volto a ter inspiração e qualquer brilho interior para me comunicar, absorvendo rapida e satisfatoriamente aquela porção como grãos de areia retém instantaneamente toda e qualquer porção de água que perto deles se situe.

Dessa vez, maravilhado pela simplicidade e profundidade de um relato, vejo mais verdade que há tantos anos busco, cultivo e repasso se materializando em meu âmago, onde contornos tênues mas impecavelmente desenhados constroem um conceito já conhecido a priori, mas nunca antes brindado com tal maestria.

Basta um pouco de observação e oportunidade para percebermos algumas qualidades que parecem sempre acompanhar grandes mentes, grandes exemplos. Quando buscamos no passado fontes de inspiração, alguns nomes e fatos históricos prontamente nos invadem o pensamento. É curioso o fato de que ao remeter nossa avaliação em face da vida de grandes exemplos, temos a imagem daquela vida sempre acompanhada por paz, sabedoria, tranquilidade, sonhos e realizações, e também humildade. Aqueles que amam o conhecimento e a temperança parecem pender naturalmente para uma personalidade, ou que seja, postura adquirida, tantas vezes minimalista, abstrata, com preocupações, temores e medos diametralmente opostas, ou mesmo estranhas ao que vemos incansavelmente nos cercar, através de pessoas comuns, no dia-a-dia.

Serão os tempos atuais tão perversos a ponto de ter extirpado esse perfil do nosso meio, terá acontecido algum tipo de seleção natural às avessas, a ponto de que tenham permanecido somente pessoas pequenas, com aspirações igualmente medíocres e feitos ainda piores, como constantemente é noticiado para os quatro cantos? Não. A verdade é que as grandes mentes, as grandes vidas sempre foram e sempre serão exceções notáveis. Seu estilo de vida, seus valores, seus focos e processos mentais se diferenciam quase que extraterrenamente do que é tipo como ordinário pela imensa massa de pessoas cuja mente já foi reduzida e aprisionada pela vida de conforto, pelas facilidades materiais e principalmente pela Sociedade do Espetáculo.

O que dá espaço, e motiva comportamentos como a autopromoção exacerbada, o que enseja em exageros, mentiras, falsas propagandas de alegria, realização, enfim; tudo o que é metralhado incessantemente nas mentes daqueles de todos que nela vivem, na maioria das vezes, sem possuir condição alguma de discernir sobre a procedência e as intenções sorrateiramente inoculadas no material que é jogado na cara de qualquer pessoa a todo instante.

Mas a questão é que todas essas premissas vão contra tudo o que se pode tirar de maior valor das vidas que mais dizemos louvar e ter como exemplo. Os maiores gênios da humanidade foram pessoas extremamente reservadas, racionais, conscientes de seu papel e seu tamanho diante do Universo; ou seja, quase nada. De forma que a genialidade é acompanhada da consciência do pouco que se pode atingir no todo, da imensidão de coisas, ideias e possibilidades que compõem o Universo, sendo ele, por mais brilhante que possa parecer, ainda ínfimo, diante de toda a Criação.

Assim, em uma mente cheia de si, ou entorpecida por preocupações mínimas, ou que é satisfeita por mimos sociais, coisas passageiras e insignificantes como prazeres momentâneos, realização de meros desejos carnais e coisas do tipo, não pode haver genialidade alguma; no máximo talento. A consciência criadora jamais o seria, se estivesse ocupada com pormenores, ou consigo mesma. Toda a criação é externa, para fora, para o outro.

Ademais, durante a longa estrada do conhecimento, da sabedoria e da prudência, qualquer indivíduo acaba por chegar no ponto de reflexão mais profunda, que o leva para os sentidos mais primitivos, para o contato com a natureza, para o questionamento sobre a origem, sobre coisas que já se tornaram por demasiado simples, mas que na verdade acabaram por dar lugar a outras que podem não parecer simples, mas certamente o são, simples e completamente desnecessárias para a completude do ser.

Uma mente sadia e bem alimentada não teme sua própria companhia; não necessita de subterfúgios para simular estados alterados de consciência, não busca a confusão, a balbúrdia, ou qualquer outro estago orgiástico; embora tenha condições plenas de se inserir nessas situações sem que sua essência ou componentes básicos sejam alterados. Mas quanto a isso, remeto ao início do post, ao dizer que a mente é como uma esponja que absorve indistintamente tudo que é colocado a seu alcance, sem filtrar o que é bom ou mal, desejável ou digno de repúdio, ela apenas absorve o que permitimos que esteja em seu contato. O caos total só não se apodera da maioria das mentes devido a barreiras morais e éticas latentes, ou convenções e repressões sociais que visam a proteção do eu, do ego e da reputação egoística, e não por falta de matéria negra por ela vagando.

Em suma, uma mente saudável é aquela que busca alimento puro, sadio, a ponto de ter sua essência alterada para o que é digno, louvável e honrado; por mais subjetivos que esses conceitos possam ser. A base espiritual ou filosófica de cada mente é o que os definem. Mas a perfidez do conteúdo que acompanha cada mínima influência trazida por um estilo de vida hedonista, utilitarista e egocêntrico que é quase que a lei atualmente, não pode ser ignorada de forma alguma, pois como pude perceber empiricamente, mente sadia ou espírito forte algum podem resistir ao constante ataque e distorção dos conceitos basilares do equilíbrio e da saúde mental.

Não sejamos como aqueles tantos que empenham sua vida, bem mais precioso, na construção de castelos de areia; que são levados por ondas, tendências passageiras, ou mesmo que fiquem ali intocados, serão certamente desmanchados pelo tempo, devido à fraqueza de sua fundação, e de seu material de construção. A vida é um dom por demais precioso para ser desperdiçada dessa forma.







Seja a mudança que você quer ver no mundo”
Mahatma Gandhi





quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Ministério Contra a Saúde


Se ninguém advertiu até agora ao prezado leitor, advirto-lhe eu: ministérios podem fazer muito mal à saúde. Pelo menos à saúde mental. Se não acredita, examine comigo o anúncio do Ministério da Saúde em que um jovem gay, abandonado pelo parceiro, é reconfortado pela amorosa família que lhe augura o breve advento de um namorado melhor, no tom exatamente de quem pintasse ante os olhos esperançosos da virgenzinha casadoura a imagem de sonho de seu príncipe encantado.

Essa breve lição de moral politicamente correta condensa, em poucos segundos, toda uma constelação de mensagens implícitas, cuja descompactação nos levará às mais surpreendentes descobertas.

Desde logo, os valores afetivos e princípios morais da unidade familiar monogâmica e estável, criada e consolidada a duras penas ao longo de milênios de educação judaico-cristã, aparecem ali como símbolos legitimadores de um tipo de relação que renega, de maneira frontal e ostensiva, esses mesmos valores e princípios. Por mais que se pretenda tergiversá-las, as condenações da Bíblia ao homem que usa outro homem como mulher são incontornáveis, e é precisamente em louvor desse uso que o anúncio apela ao prestígio de um modelo de família que é, também incontornavelmente, criação histórica e expressão social do ensinamento bíblico.

Trata-se, portanto, de um exemplar característico daquilo que Pavlov denominava estimulação paradoxal: a mente é aí convidada a ir ao mesmo tempo em duas direções que se negam e se anulam reciprocamente.

A diferença entre a estimulação paradoxal e a exposição franca de um paradoxo é que, na primeira, a contradição não vem apresentada como tal, mas disfarçada de pura identidade lógica, óbvia, tranqüila e improblemática, sendo a percepção da incongruência relegada para a penumbra do inconsciente.

Mesmo que os telespectadores sintam algum desconforto consciente ante o anúncio, pouquíssimos serão capazes de desfazer o angu psicológico e libertar-se do seu efeito por meio da verbalização explícita do paradoxo nele embutido. Muitos cairão no engodo de discutir o seu explícito conteúdo pró-homossexual, sem se dar conta de que nele há algo de muito mais grave que isso.

O resultado da estimulação paradoxal repetida, segundo Pavlov, é a ruptura das cadeias associativas em que se baseia o raciocínio. Essa ruptura leva a um desconforto psíquico do qual, após certo número de repetições, o cérebro aprenderá a buscar alívio mediante o mergulho num estado de paralisia do juízo crítico, de estupor da consciência. Acossada e inerme, incapaz de reação eficiente, a vítima tentará ajustar-se ao novo estado de coisas pelo recurso desesperado à inversão mecânica de suas reações habituais. Cães passarão a morder o dono e a lamber as mãos de estranhos. Seres humanos passarão a amar o que odiavam e a odiar o que amavam.

Essa mudança pode parecer temporária, mas na verdade não é assim. Experiências baseadas na teoria da “dissonância cognitiva”, do psiquiatra Leon Festinger, demonstraram que qualquer pessoa, induzida a adotar, mesmo temporariamente, uma conduta hostil a seus valores e princípios habituais, acabará em geral mudando retroativamente de valores e princípios, não mediante uma reflexão crítica séria, é claro, mas por uma grosseira acomodação irracional destinada a aliviar o sofrimento da incongruência mal conscientizada.

O modus operandi do anúncio é, portanto, o de uma característica manipulação de reações subconscientes: inocular na psique do espectador um desconforto neurotizante que o forçará a mudar de valores e princípios sem ter tido sequer o tempo de refletir sobre o assunto. O dano psíquico decorrente da brincadeira pouco importa aos planejadores da mutação. A dissonância cognitiva não reconhecida nem tratada como tal, mas contornada por adaptação inconsciente e racionalizações, acabará por minar toda a unidade da psique, rebaixando o nível de consciência do indivíduo, sujeitando-o a novos conflitos neuróticos e tornando-o vulnerável a quaisquer manipulações subseqüentes, principalmente vindas do mesmo agente estimulador.

O anúncio está, portanto, destinado a produzir entre os telespectadores as mais espetaculares mudanças de conduta, de sentimentos, de discurso — mas nada disso através de discussão democrática, de persuasão racional, e sim por meio da manipulação perversa que os transformará em fantoches nas mãos dos engenheiros comportamentais do Ministério da Saúde. A esta altura, o efeito em alguns milhões de brasileiros já se tornou praticamente irreversível.

Que semelhante violência seja feita em defesa da homossexualidade ou de qualquer outra coisa, pouco importa. Não é esse o ponto. A conduta homossexual poderia sem dificuldade ser amparada juridicamente com base no respeito à privacidade das opções individuais, um direito elementar. Mas legitimá-la por meio de sua identificação artificiosa com as relações familiares tradicionais não é defender nem respeitar direito nenhum: é destruir de um só golpe toda a ordem racional em que se assenta a noção mesma de direito, é paralisar todas as inteligências pelo uso maciço da estimulação paradoxal e pela institucionalização da dissonância cognitiva. É reduzir as massas à mais dócil imbecilidade e instaurar a ditadura da engenharia comportamental. Falar em “cidadania”, nessas condições, é uma pilhéria macabra: a escravidão psicológica é absolutamente incompatível com o livre exercício do julgamento racional, sem o qual não existe cidadania, nem liberdade, nem democracia.


Olavo de Carvalho