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sábado, 21 de maio de 2011

Natureza x Cultura


O amor que nunca vai ser expresso

por Mandy Appleyard

A pior festa do mundo estava na máxima força, e lá estava eu, entre 40 pessoas e desejando estar em qualquer outro sítio. A música era má, a comida ainda pior, e os convidados, que eram casados e tinham filhos, estavam envolvidos em conversas em torno da vida familiar.

Como eu não era casada e nem tinha filhos, eu pouco tinha a oferecer à conversa. "Com que então você é uma mulher de carreira." O que soava a uma acusação foi dito por uma mulher corpulenta que eu nunca havia conhecido antes. Eu respondi que sim, eu era uma jornalista.

"Não me leve a mal", continuou ela, "mas não consigo entender como é que uma mulher pode escolher o emprego no lugar da vida familiar. Deve ser uma vida solitária sem crianças. O que é que a leva a acordar todos os dias de manhã? Não quero soar rude, mas você torna-se mais egoísta se você é a única pessoa em quem você tem que pensar."

Resisti à tentação de molhar a mulher com Rioja e, em vez disso, saí da festa, magoada e admirada com o quão maldosas as pessoas podem ser. Não preciso que ninguém faça comentários cruéis em torno do facto de eu não ter filhos. Eu passei os últimos 10 anos a conjurar a minha própria agonia sobre esse assunto.

Sei, por exemplo, que o facto de não ser mãe faz com que haja uma parte de mim que permanece sem uso, um amor que nunca vai ser expresso. Sei que o amor que qualquer mãe descreve como o amor mais profundo que ela vai alguma vez conhecer, é, para mim, uma porta fechada.

Há muito amor que eu nunca vou ser capaz de oferecer, sabedoria e entendimento que nunca vou partilhar, abrigo e consolo que eu nunca vou providenciar.

Nunca imaginei a minha vida sem uma família. Tive 3 relacionamentos significativos nos meus anos 20 e 30 - cada um deles eu assumi que conduziriam a casamento e a filhos. O meu primeiro relacionamento, com um colega estudante, terminou depois de cinco anos. Tínhamos 25 anos e ele não estava pronto para assentar, e como tal cada um seguiu o seu caminho.

Quando tinha 27 anos comecei um relacionamento com um homem - naquele que foi o meu segundo grande relacionamento. Já estávamos juntos há 18 meses quando fiquei a saber que ele andava com outra. Por isso fiquei sem escolha senão acabar com tudo.

Quando tinha 30 anos envolvi-me com um homem que eu tinha a certeza ser O Tal. Parceiro certo, idade certa; o que é que poderia correr mal? Três anos depois ele disse que se tinha apaixonado por outra pessoa.

Os anos que se seguiram foram dos mais difíceis da minha vida, à medida que amigos próximos se casavam e começavam famílias. Eu estava cheia de inveja e tinha ódio a mim mesma por me sentir assim.

À medida que elas iniciavam um capítulo mais maduro e excitante da sua vida como pais, eu parecia debulhar num inferno de encontros, impaciente com a expectativa mas muito longe de encontrar o homem com quem eu assentaria e iniciaria uma família própria.

O meu arrependimento vai pairar sempre. A minha vida é mais pobre porque não tenho filhos, e eu sou menos mulher por não ser mãe.





postado originalmente em: Marxismo Cultural

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