Nessas férias tive oportunidade de conviver e refletir sobre extremos. Mas o próprio conceito de extremos já é extremamente delicado, quando tomado por um ser que nasceu, foi criado e teve toda sua existência formada quase que exclusivamente por selvas de concreto, mediações digitais, informações intensamente tendenciosas e valores fortemente transformados.
A verdade é que as duas cenas antagônicas descritas nas imagens refletem o tipo de divergência que experimentei.
De um lado temos o homem escravizado, domado, influenciado e rendido a um estilo de vida, a uma ditadura da informação. Um meio que faz com que ele se perca entre dados, números, notícias, boatos e meias-verdades. É o típico homem infestado pelo vírus da sociedade e do estilo de vida formatado, padrão. Cujo único objetivo é correr atrás de metas e sonhos colocados em sua mente sabe-se lá por quem. Enfim, uma vida repleta de desejos, que são sempre colocados acima das necessidades. Esse homem, portanto, se torna escravo de seu próprio ego, de suas próprias emoções, construindo para si ideais aparentemente genuínos, mas basta uma olhada superficial para o lado, para ver uma multidão de zumbis que sonham e anelam com todas as forças exatamente pelas mesmas coisas. Algo realmente intrigante, quando consideramos ter vindo do ser mais desenvolvido, racional, divergente e contraditório da natureza. Esse é o homem que escravizou a si mesmo, com grilhões que alcançam até mesmo quem os criou.
Por outro lado, conheci a incrível história de Christopher Johnson McCandless. Um jovem norte-americano que resolveu abandonar todo o conforto, diploma, dinheiro e 'sonhos' que tinha na vida para se aproximar um pouco mais de sua essência, se aventurando numa caminhada rumo ao desconhecido, apenas com o rumo de chegar ao Alasca. A história dele acabou dando origem a um livro lançado em 1996, com o título orignal de Into the Wild, por Jon Krakauer, adaptado para os cinemas em 2007 sob a direção de Sean Penn, com o título em português de "Na Natureza Selvagem".
“(…) SEM JAMAIS TER DE VOLTAR A SER ENVENENADO PELA CIVILIZAÇÃO, FOGE E CAMINHA SOZINHO PELA TERRA PARA SE PERDER NA FLORESTA”
Inspirado por escritores como Jack London, Hendy David Thoreau e Leo Tolstoy, esse jovem criou uma certa aversão à sociedade e todo o sistema que havia sido criado e se enraizado profundamente nas pessoas, que não mais pensavam, jamais o questionavam, apenas viviam. Me identifiquei grandemente com a atitude e os pensamentos de Christopher, principalmente na parte de não questionamento de algumas verdades absolutas. Conversando com uma amiga ultimamente fui questionado sobre que coisas eu ensinaria para os meus filhos...
Como muitos sabem sou cristão, frequento uma igreja evangélica, mas não sigo tanto o padrão psicológico da maioria das pessoas que conheço ou convivo. Tenho curiosidade e dificuldade de engolir padrões, principalmente comportamentais, sem alguma explicação, ou razão; ou seja, sou o tipo de pessoa que busca entender o porque de alguma coisa antes de segui-la ou adotar como verdade pra minha vida.
Então o que eu respondi a essa minha amiga foi que eu ensinaria apenas duas coisas a meus filhos: a primeira são os caminhos de Deus; Seus princípios, mandamentos éticos, morais e explicarei paulatinamente a razão de tudo aquilo; o porque de agir assim e assado e não apenas: faça isso porque é o certo, ou porque Deus mandou, ou porque Ele vai te castigar se vc não obedecer.
A segunda é intimamente ligada a essa primeira, que é justamente aprender a pensar e questionar as coisas; sobretudo eles, que viverão numa era altamente intoxicada pelo espetáculo, pelo estilo de vida massificado, por padrões muito restritos de conduta e 'normalidade'.
Sou do partido de que devemos tratar uma pessoa desde sempre como se ela já fosse aquilo que desejamos que ela se torne. Logo, se quero que meus filhos, ou qualquer outra pessoa se torne um ser pensante, inteligente, capaz de compreender e modificar o meio em que vive, eu me recuso a colocar verdades inexplicadas na cabeça deles, uma vez que da mesma forma que eu coloquei dogmas incontestáveis na cabeça deles, voltados pro que EU acredito ser certo, outras pessoas, situações ou experiências podem fazer o mesmo, e claro, nem sempre pendendo para coisas desejáveis (sobretudo nos dias de hoje).
Enfim, o que mais me impressionou na longa jornada desse garoto foi como a simplicidade, a naturalidade e a paz que ele tinha dentro de si, eram facilmente absorvidas por outras pessoas, que já possuiam de certa forma, uma maturidade comportamental e espiritual pra isso.
Digo, alguém que estava num caminho como o dele, limpando de si doses hemeopáticas de veneno social e mental, quando caminha pelas ruas de uma grande metrópole, vai ser visto como um desajustado, um coitado, um perdedor, nessa vida onde vencer é ter sucesso social, financeiro, poder, profundamente imerso nos conceitos da tão glamourosa high-life (objetivo máximo de vida para a esmagadora maioria dos jovens atuais); mas quando encontrava pessoas simples, desapegadas, com o conteúdo lapidado interiormente e não externamente, Christopher parecia trazer à tona o melhor de cada pessoa, se tornando alguém quase que insubstituível para a compreensão de certas coisas. Sendo que o único dom ou talento sendo demonstrado por aquele jovem era a simplicidade, a naturalidade, a essência do homem, a longo tempo abandonada.
Quantas vezes por semana, mês ou ano que nos permitimos pisar descalços numa grama úmida após uma noite de sereno até sentir a terra revirar sob nossos pés, ou encher com vontade nossos pulmões com a primeira brisa da manhã? Quantos aqui tiram que seja, segundos de seu precioso tempo, para contemplar a infinitude das estrelas que nos observam silenciosamente no vazio da noite? Ou mesmo nos colocarmos embaixo de uma cachoeira, e sentir aquela água gelada, pura e cristalina lavando toda nossa carga de stress, inquietação e urbanismo?
São coisas assim de que precisamos, voltar um pouco para a essência, ter o mínimo contato que seja com a vida natural, nos afastando dos animais violentos e egoístas que temos nos tornado, e paradoxalmente ou não, buscar mais contato com a nossa natureza selvagem!
“Tive uma vida feliz, e agradeço ao Senhor.
Adeus e que Deus vos abençoe a todos”.
Christopher McCandless
Adeus e que Deus vos abençoe a todos”.
Christopher McCandless
Um comentário:
Já assisti esse filme e achei muito interessante a visão que você teve, que me mostrou um ponto de vista aprofundado em reflexões que podemos comparar com os dias de hoje. Realmente, estamos cada vez mais afastados do contato com a natureza e, consequentemente, com nós mesmos, pois fazemos parte dela, embora nem sempre pareça.
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