Primeiramente é importante descrever a erística, segundo o conceito dado por Aristóteles, que define-a como a arte da discussão contenciosa, ou belicosa, onde se trata apenas de vencer e não de buscar uma prova.
Conceito esse que poderia nos remeter tranquilamente à maioria dos debates e discussões que presenciamos ou mesmo participamos no cotidiano, mesmo sem nos darmos conta disso.
Pois bem; é certo que para que um debate se desenvolva por outros caminhos é necessário que nele seja inserido o conceito puro da dialética, como um debate em que só podem participar pessoas informadas e honestas, dispostas a encontrar a verdade e portanto a abandonar, no curso da disputa, as opiniões que se revelem inconsistentes.
Seguindo essa linha, temos por fim, a lógica, que são os pressupostos inquestionáveis que devem ser levados em conta para a construção da dialética, seja através da analítica ou do diálogo.
Resmindo; a dialética é a arte de argumentar, presente dentro dos quadros da retórica utilizada para a descoberta da verdade.
O primeiro a afirmar categoricamente a natureza dialética do pensamento filosófico foi Johann G. Von Frichte, seguido por Friedrich W. von Schelling e também por Georg W. F. Hegel.
Para todos eles a dialética é mais que um método: ela tem alcance metafísico explícito.
Para Schelling, a própria realidade consiste fundamentalmente na manifestação do Absoluto - Deus - que, sem perder sua unidade intrínseca, se desdobra, do ponto de vista do entendimento humano, sob a forma da natureza por um lado, e da subjetividade por outro. Portanto, a realidade é expressa na manifestação divina aliada ao entendimento humano (concedido por Deus).
Esse conceito permeou o pensamento e as obras dos maiores filósofos da história, tendo sido sempre utilizado para que o homem, através da intuição intelectual (não pode ser pensada) atinja a verdade e consequentemente adquira consciência sobre a realidade. Assim, à medida que reconhece a unidade, a autoconsciência humana se realiza. O mundo e o eu se realizam no reconhecimento da unidade em Deus, fora do Qual não tinham nenhuma realidade.
"n'Ele vivemos, nos movemos e somos" Atos 17:28
Ocorre que o equilíbrio de método dialético do Absoluto proposto por Schelling, é rompido pela filosofia de Hegel. Ele faz com que o método derrube a ontologia: o Ser, na indeterminação inicial (que deve ser composta posteriormente pelo método acima descrito), identifica-se com o Nada, e sua realidade consistirá na sua realização, ou seja, no desenrolar da própria dialética com o tempo.
Antes, o Absoluto reduzido a dialética implicava a redução de toda a realidade à dimensão temporal (histórica). Agora, em Hegel, o Ser não tem mais ligação com o Todo, mas com o Nada; nascendo daí uma espécie de irracionalismo ontológico. Ao passo que, no período histórico por ele vivido, erguia-se também o Estado moderno. O Estado acabava de se erguer não só como realidade suprema, mas como supremo arbítiro das questões metafísicas, arrogando para si todos os temas referentes à filosofia e à religião.
Contra essa ideologia (pseudo-filosofia) nasceram os grandes contendedores da ideia do Estado possuindo tamanho e poderes avassaladores, como foi o caso de Nietzsche e o próprio Schopenhauer. Nietzsche descrevia o Estado moderno como "o mais frio dos montros" - em Assim Falava Zaratustra. Daí em diante, o foco de atenção se desvia da busca da perfeição da alma para a luta pelo Estado perfeito. Inaugura-se então uma nova guerra doutrinária, diferente de todas as outras existentes até então na história; o meio filosófico se dividia entre duas categorias políticas modernas: direita e esquerda. Assim surgia a litigiosa disputa entre dois modelos possíveis de estado; a quetão do destino da alma havia sido superada com ares de desimportância e inferioridade.
Esse foi o mais trágico erro do ponto de vista moral ocorrido em toda a história da humanidade: a convicção de que a sociedade, e não os indivíduos concretos, são sujeitos da responsabilidade moral (pressuposto presente na base de toda política e ideologia "politicamente correta".)
Uma vez negado o poder cognoscitivo do método dialético, viria por terra toda a filosofia de Hegel. Pois uma vez que estes fossem excluídos, só restariam os velhos métodos do empirismo e do racionalismo - apreensíveis pelos sentidos e pela lógica. Immanuel Kant já havia demonstrado que nenhum desses dois métodos é suficiente para o acesso à coisa-em-si. Daí depreende-se naturalmente, que a coisa-em-si, estando fora do mundo da representação, não é apenas extra-sensorial, mas também irracional.
Assim, ignorando os pressupostos encontrados por Schelling; Schopenhauer e Hegel inauguram a sensibilidade moderna, onde já não se compreende nenhuma dialética senão no sentido histórico-social, onde a alma se debate em vão entre o dedutivismo lógico e o abismo do infinito compreendido como pura irracionalidade.
Por fim, chegamos à era dos utopismos sociais e da tecnocracia. É esse o mundo de Nietzsche, Marx, Freud, Hitler, Gurdjieff e Skinner. Esse é o "nosso" mundo.
Estavam estabelecidos todos os pressupostos necessários para a construção da mentalidade revolucionária; que tudo pode, em nome da sociedade futura hipotética. Onde não há certeza, não há verdade, não há valores, não há meios claros; contanto que se alcance o objetivo.
Este é o pano de fundo de todo tipo de política social absurda que vemos; em governos que num momento perseguem o cristianismo, chamando-o de machista, opressor, pedófilo; e no outro nada faz contra a ascenção e crescimento da religião mais paternalista, totalitária e repressiva já criada, o Islamismo; num momento incentivam o sexo-livre, a quebra da forma familiar, da erradicação das consequências da promiscuidade (aborto), e no outro fazem campanhas sociais pró-vida para que menores abandonados filhos de mães solteiras sejam amparados por outras famílias. Tudo é válido desde que se encaixe nos objetivos do Partido.
É em nome da queda da religião que por milênios permeou a moral e fundamentou as sociedades ocidentais que vemos o estado cada vez mais forte, cada vez mais interventor; atuando através da criação de leis que impedem o cidadão de fumar onde não querem, de dar uma palmada em seu próprio filho, em exercer sua autoridade dentro de casa sob a ameaça de ser preso, entre outros absurdos jurídicos e legislativos.
Portanto, não é nenhuma coincidência que sejam justamente os ateus os maiores defensores dessa agenda; pensando agir em nome da lógica pura e simples; mas sequer fazem ideia de que a utilizam no sentido Schopenhaueriano, desligada do diálogo necessário com a dialética Aristotélica e sua razão fundamental: a ascenção da alma e a ligação com o Absoluto.
A moral sem uma lei imutável que a institua, e sem um Criador que as defina, é manca; podendo ser manipulada por todo esse malabarismo ideológico, oportunamente usado pelos criadores da mentalidade revolucionária e da subversão social (na Escola de Frankfurt). E na aliança do derretimento moral com o consequente interrompimento na busca pessoal pela ascenção da alma; se desenha o cenário perfeito para que a incoerência, a confusão, e a entropia de conceitos, ideias e atitudes reine; sem que a menor suspeita ou questionamento se levante.
Mas a boa nova é que todo véu, um dia há de ser rasgado...
(Mt. 27:51)
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