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sábado, 10 de novembro de 2012

A importância da imaginação como elemento de formação cultural




Bons eram os tempos em que os pais incentivavam seus filhos a desenvolver a criatividade e a imaginação sem muitas barreiras. Éramos incentivados desde sempre a ler contos, fábulas e histórias fantásticas de reinos distantes, épocas remotas ou mesmo nunca existentes; mas que nos ensinavam a pensar, imaginar e fantasiar coisas muito além das aparentemente possíveis.




Há quem veja na religião e no metafísico uma parcela desse tipo de faculdade cognitiva. Mas o fato é que a cada dia que passa, vemos nossas crianças serem inundadas com responsabilidades e obrigações desde seus mais tenros anos. Não existe mais aquela beleza de poder brincar pelo resto do dia depois de ir à aula e cumprir os deveres de casa. Agora os pequenos são preparados desde os primeiros anos de vida como pequenos soldados da sociedade, com aulas de idiomas, esportes, música, psicólogos e tantas outras. Não que a educação não deva existir, ou que atividades extracurriculares sejam ruins. O problema é que elas tem tomado um lugar insubstituível na vida dessas pessoinhas.

Quando pequenos, nossa mente está acostumada a enxergar as coisas através de sua essência. Enquanto como adultos, procuramos enxergar tudo pelo aspecto da utilidade.
E é através da essência das coisas que aprendemos sobre seu significado e mais tarde, sua real utilidade. Portanto, durante a infância é importante que a criatividade, a imaginação e a fantasia sejam trabalhados sem medidas, para que ao passar dos anos, a mente seja capaz de abstrair a utilidade e a função das ideias dentro de um universo muito mais amplo e irrestrito de possibilidades.

Ao transformar um infante num ser completamente absorvido em compromissos, horários fixos, programas técnicos e estudos puramente técnicos e restritos, ou acostumando-o a ter uma vida social muito intensa, acabamos por furtar-lhes essa parte fundamental que a permitiria ter um embasamento indispensável para o desenvolvimento da vida intelectual nos anos seguintes.

E esse comportamento tem se manifestado de forma implacável em nossa cultura. Não é difícil perceber como os grandes clássicos da literatura fantástica, antigas fábulas e contos mitológicos ou épicos são cada vez mais ilustres desconhecidos em nosso meio. Vemos em seu lugar, programas de realidade planejada (reality shows), novelas e dramas de conotação puramente relacional ou romântica... enfim, tudo o que tem um viés mais restrito, pessoal, que trata de relações puramente pessoais, sociais ou emocionais, tendem a fazer um sucesso absoluto, mesmo entre os mais novos. E aquelas obras que deveriam despertar a curiosidade deles já são criticadas e tomadas como algo infantil, inferior, indigno de atenção; como se a mentalidade puramente lógica mais comum nos adultos já tivesse arrefecido seu espírito, mesmo que estejamos falando de um menino de 7 anos de idade. Cria-se então a torpe impressão de que tudo que se trata do mundo material, terreno e puramente humano, vivido dentro do reino das possibiliades apreensíveis e limitadas pelos sentidos, fosse maduro, desejável e prático, e todo o mais, apenas passatempo para crianças bobas e iludidas, em desconformidade com a realidade.

Acontece que se nos propusermos a um breve retorno às origens do pensamento ocidental, recorrendo da filosofia grega que baseou e norteou os pensamentos de todos os grandes céticos, materialistas e positivistas europeus, vamos perceber que o pensamento lógico jamais seria possível sem a imaginação, essa faculdade hoje tão desprezada e caluniada. Como foi dito, quando se baseia por fonte de abstração e cognição apenas os cinco sentidos, só existe o aqui e o agora, o mensurável, o palpável, o tangível, e no plano do pensamento, só podemos imaginar conceitos abstratos, ideias e esquemas de raciocínio. A imaginação é exatamente a ponte que une esses dois pontos, sem a qual se criaria um abismo instransponível entre o que se passa em nossa mente e o que há no mundo concreto.

Portanto, fica claro que a capacidade imaginativa (que é previamente construída pelo contato com a fantasia, com o fantástico), é a base não só para o desenvolvimento intelectual de quem quer que seja, mas também para que se crie a capacidade de expressão das percepções, sentimentos e ideias que temos interiormente. Ou seja, quanto menor for o universo imaginativo da pessoa, mais limitada ela será no campo lógico, prático, real.

Assim fica o meu alerta para os que possuem uma predileção quase que absoluta para as obras puramente lógicas, humanas e possíveis, e desprezam o fantástico e o contemplativo. Muitas vezes esses pré-conceitos são criados usando como escudo a roupagem infantil ou "absurda" que a maioria das obras fantásticas possuem, como é o caso de fábulas com animais falantes, de histórias épicas como por exemplos As Crônicas de Nárnia, ou O Senhor dos Anéis, outros contos de mitologia, em filmes e seriados de ficção e até mesmo em escritos históricos religiosos.

A cultura oriental é perfeita para fechar esse raciocínio. O advento das histórias em quadrinhos se deu na américa, em 1895, mas é no japão onde elas são mais fundidas na cultura e consumidas numericamente; com estilização própria voltada para os contos, e a cultura milenar ocidental (mudanças que deram ao nome dessa obra de mangá, em todo o oriente).
E não é de se espantar que é justamente nessa terra, de onde saem as maiores mentes das ciências exatas e corporações tecnológicas do mundo?

Fica a reflexão.



"O homem não é racional só
quando raciocina, mas também, implicitamente, 
quando percebe e imagina."
Olavo de Carvalho

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