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quinta-feira, 28 de maio de 2009

Welcome to the real world






...algo nos mostra ao longo da vida que a busca incessante por prazeres realmente só traz dor e desilusão, e que o melhor modo de viver a vida é buscando o equilíbrio, a sabedoria e o suficiente em todas as áreas, e não o máximo que pudermos, como nos é ensinado por essa sociedade utópica, que cria para todos modelos estereotipados com padrões muito acima do médio, do normal e até do atingível, nos bombardeando com conceitos, imagens e informações que beiram o olímpico, mas que serão perseguidas posteriormente por humanos falhos, cheios de medos, inseguranças e fraquezas. Daí derivou a teoria narcísica de Freud que descreve perfeitamente o comportamento da sociedade hedonista e narcisista que vemos hoje minar os sonhos e todo o interior de seus seguidores.

sonhos, fantasias, padrões excessivamente elevados, esperanças demasiadas... pra que serviriam a não ser pra construir efusivas ilusões quebradas em desilusões? todos que já esperamos muito de algo, percebemos, ao conseguir o objeto de desejo, que a expectativa foi muito maior que a felicidade trazida pela realização.

Aqui vão algumas sábias palavras da obra de um homem que percebeu isso há um século e meio:

"...nunca se devem comprar prazeres à custa de dores, tampouco do risco, visto que isso seria pagar algo negativo e quimérico com algo positivo e real. Em contrapartida, há benefício em sacrificar prazeres para evitar dores. Em ambos os casos, é indiferente se as dores seguem ou precedem os prazeres. Não existe verdadeiramente loucura maior que querer transformar este teatro de misérias e lamentos em um lugar de prazer e buscar prazeres e alegrias, como tantos fazem, em vez de tratar de evitar a maior quantidade possível de dores. Há alguma sabedoria naquele que, com um olhar sombrio, considera este mundo como uma espécie de inferno, e não se ocupa senão de proporcionar-se um abrigo onde esteja a salvo das chamas. O tolo corre atrás dos prazeres da vida e colhe desilusões; o sábio evita os seus males. Quando, apesar desses esforços, não se consegue evitá-los, a culpa é do destino, não da própria tolice; porém, na medida em que o consiga, não será desiludido, porque os males que houver evitado são muito reais. Ainda que seu esforço em evitá-los tenha sido excessivo, sacrificando prazeres desnecessariamente, não perdeu nada realmente; pois todos os prazeres são ilusórios, e lamentar por sua perda seria mesquinho, e mesmo ridículo. A incapacidade – encorajada pelo otimismo – de apreender essa verdade é a fonte de muitas desgraças. Assim, nos momentos em que estamos livres de dores, desejos inquietos fazem brilhar à nossa vista as quimeras de uma felicidade que não tem existência real e nos seduzem a persegui-las; com isso atraímos a dor, que é indiscutivelmente real. Então lamentamos a perda desse estado de ausência de dor que, como um paraíso perdido, ficou para trás, e em vão tentamos reverter o que está feito. Parece que um espírito maligno, com visões de nossos desejos, ocupa-se constantemente em nos distanciar do estado de ausência de sofrimento, da felicidade suprema e real. O jovem irrefletido imagina que o mundo existe para ser desfrutado; que é a morada de uma felicidade positiva; que os homens não a alcançam porque são incapazes de superar as dificuldades. Sua crença é reforçada pelos romances e poesias, e por essa hipocrisia que o mundo exibe onde quer que seja e sempre em favor das aparências, assunto ao qual retornarei em breve. Daí em diante, sua vida é uma busca mais ou menos deliberada de uma felicidade positiva que, como tal, diz-se consistir de prazeres positivos. Não devemos esquecer os perigos aos quais se expõe nessa busca pela felicidade. Isso leva à persecução de coisas que não existem de maneira alguma e, em regra, acaba por conduzir a uma desgraça muito real e positiva, que se manifesta como dores, sofrimentos, enfermidades, perdas, cuidados, pobreza, desonra e outras mil calamidades."*


...a vida é bem simples, somos nós que a complicamos...





*retirado da obra "Aforismos para a Sabedoria de Vida" de Arthur Schopenhauer

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