segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Características do Homem Metropolitano
1. cinismo, desinteresse pelos grandes problemas interrogativos do homem;
2. ausência da dúvida;
3. espírito folgazão;
4. jargão cheio de molequismo como meio de linguagem;
5. falta constante do espírito de conservadorismo, sob qualquer aspecto;
6. necessidade imprescindível de encher o vazio interior com divertimentos mais violentos, excitantes mais rápidos;
7. pouca elegância nas maneiras; tendência para o chiste, para o humor, o trocadilho;
8. tendência às exterioridades, manifesta mais intensamente na busca do vestiário;
9. pretensão de superioridade sobre o provinciano que lhe serve de motivo de ridículo, sobretudo quanto às virtudes que este possui e que são olhadas pelo metropolitano como reminiscências de épocas ante riores que ele julga já ultrapassadas;
10. aumento do esquerdismo nas massas; na arte é atraído pelo temporal, pelo passageiro, pelo epidérmico;
11. não compreende mais arte pela arte; dissociação dos sentimentos nobres que eles os eiva de interesses e de lucros próximos;
12. ausência do heroísmo desinteressado;
13. gosto pela literatura leve, pelo romance em vez do ensaio, pela novela em vez do estudo; - ausência de ideais excelsos, substituídos pelas ânsias de vitórias materiais;
14. volubilidade crescente;
15. radicalização às ruas: “Tenho asfalto na alma...”;
16. nova concepção utilitária do amor;
17. transformação do casamento em companheirismo;
18. transformação do sentido provinciano da mulher;
19. tendência para maior liberdade sexual;
20. aumento da neurastenia e doenças nervosas;
21. modificação degenerativa de todos os sentimentos;
22. diminuição do sentido do destino, do signo, para incremento do sentido de causalidade;
23. redução dos instintos por uma padronização consciente normativa de um “modus-vivendi”;
24. maior tensão e vigília na vida;
25. mais vazio nas almas; artificialização crescente da vida e da criação consciente;
26. predomínio da moda, que segue num ritmo cada vez mais rápido;
27. instalação do provisório em suas construções e obras de arquitetura e consequente espírito de “moda”, na arte, com o envelhecimento precoce dos seus ídolos;
28. instalação de crenças variadas, com codificações de cunho típico metropolitano;
29. maior ingenuidade na aceitação dos fatos e nos divertimentos;
30. maior atração pela luz e pelo movimento;
31. mais crescente o sentido de morte nas obras humanas metropolitanas, que trazem sempre o gérmen da destruição;
32. completa ausência do sentido de reversibilidade do tempo, consciência mais forte da hora que passa, do segundo que passa;
33. gosto pelas coisas “exquises”, instauração da música de sons vitais e do ritmo mais sexual; - predominância no consciente dos problemas de ordem sexual;
34. aumento do “taedium vitae”;
35. maior fixação íntima da cidade que nunca abandona o metropolitano, mesmo quando ausente dela;
36. instalação do herói citadino, de brilho rápido, que se salienta por qualquer realização provisória como esportistas, políticos, locutores de rádio, aviadores, etc;
37. maior desagregação dos elementos raciais, para dar nascimento a um tipo comum; ausência de espiritualismo, com crescente desenvolvimento de doutrinas de fundo causal, científico; - divinização do dinheiro em contraposição ao sentido econômico rural dos bens;
38. infecundidade física e espiritual;
39. ausência de angústia quando se vê o último de sua família, sem possibilidade de perpetuação;
40. redução da natalidade, ao princípio como consequência de ordem econômica, finalmente formando o espírito do homem citadino;
41. redução do instinto maternal das mulheres, que passam bruscamente da meninice para a maturidade;
42. ausência do brinquedo ingênuo, infantil; espírito emancipativo das mulheres;
43. uniformização da urbanística metropolitana, entre si, entre as grandes cidades;
44. a música, a literatura, e a pintura e a escultura assumem um caráter profissional;
45. ausência do estilo e instalação do gosto;
46. desaparecimento dos costumes para dar lugar às maneiras de comportamento;
47. desaparecimento do traje popular pela influência de uma moda variável;
48. ânsia de imposição do estilo metropolitano sobre as partes ainda não conquistadas;
49. ânsia de imposição de formas genéricas para o domínio no mundo inteiro;
50. aumento crescente do agnosticismo como atitude filosófica, como posição mais fácil para enfrentar as grandes e eternas perguntas;
51. a originalidade como signo de decadência; nas metrópoles, na ânsia de originalidade, “Os homens excelsos não são originais”.
In: Páginas Várias, Mário Ferreira dos Santos.
apud Renan.
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