terça-feira, 12 de janeiro de 2010
O Mistério do Áureo Florescer
Uma das maiores tendências dos tempos atuais é ver pessoas buscando alegria, felicidade, prazer, realização de sonhos. A pergunta que nunca deixa de estar em primeiro plano é: Como atingi-los?
Mas antes dessa pergunta, urge que uma outra seja respondida: Porque eu quero isso?
A fonte dessas aspirações de vida pode estar longe de ser do tipo que traz águas que matam a sede, ou da água que dá ainda mais o que deveria suprir. Creio que ninguém ficaria contente ao sentir sede e receber um pedaço de paçoca na boca.
O que fazer para reconhecer a procedência de uma água e qual a sua real natureza? Analisá-la.
Mas transpondo isso para o aspecto da vida prática creio que levaríamos algumas centenas, pra não dizer milhares de anos. Essa é sem dúvida a má notícia. A boa é que muitos homens já fizeram grande parte desse trabalho ao longo da história. Sim, a sede pela água milagrosa não é uma busca contemporânea, de forma alguma... Mas como tudo que possui grande valor é conquistado após grande esforço, essas respostas não estão condensadas de uma forma única, e sequer são de fácil compreensão por qualquer que coloque as mãos nos escritos que iluminam a alma.
As respostas que saciariam a condicionada sede humana fazem parte de experiências, lições e sacrifício de incontáveis vidas, por incontáveis anos. É um preço alto e talvez ainda sim injusto a se pagar por isso. Lendo os diversos evangelhos, ou escritos orientais e hindus, temos uma quantidade impressionante de convergências no que concerce a práticas mentais, perfis comportamentais, ideologias a serem adotadas, e mais um turbilhão de devaneios e distorções de um caminho simples.
Contudo, a aplicação de algo simples se torna demasiadamente complicada quando falamos de vidas, almas, mentes que são tão diferentes como a constituição física de cada floco de neve que já desceu dos céus. É por isso que vemos uma diversidade incrível de seitas, grupos, religiões e sociedades secretas que teoricamente (ou aparentemente) buscam a mesma coisa. Aprimoramento, redenção, salvação, harmonia, paz, fraternidade. Alguns seres humanos se mostram invariavelmente incompatíveis com essa ou aquela doutrina, com esse ou aquele ditame comportamental, não importando o quanto se esforce para se adequar ao propósito.
São particularidades que inviabilizam a uniformização dos ensinamentos estabilizadores do eu absoluto, devendo as mesmas serem previamente expostas, com a maior dose de honestidade e desapego ao ego possíveis. Somente dessa forma é possível olhar para o que temos de mais bem guardado, ou propositalmente escondido, e dessa forma iniciar o penoso, porém inigualavelmente compensador trabalho manutenção do ser. Um ser cercado por dogmas, máximas, proibições infundadas ou vaidade exacerbada, pode infelizmente tentar mexer em si mesmo durante toda a vida, mas certamente não conseguirá nada além de arranhar sua própria superfície, criada pelo próprio ser, numa tentativa vã de proteger-se do sofrimento causado pelo simples ato de viver.
Tentar poupar-se dos estigmas causados por erros, decepções e desilusões é furtar-se da busca por uma alma forte, de um espírito completo. Toda queda é plataforma para uma grande ressureição, desde que o corpo e a mente estejam conscientes e fortes o suficientes para alçar tal voo.
Muitas outras questões que avassalam a quase todos tem origem em ações vindas de si mesmo, frutos de consequências impensadas ou mesmo desconhecidas, e um consequente despreparo no trato das mesmas. E quão árdua é a tarefa de reconhecer isso, para os que se revestem de uma armadura de autopiedade ou religiosidade, encontrando sempre um terceiro sob o qual recairá erroneamente a responsabilidade sobre qualquer tipo de fiasco? A consciência pode se sentir livre, mas o espírito permanece perturbado, e a paz, distante. Pois que mérito haveria no salvador de uma vítima colocada em perigo por si mesmo? Ou que honra haveria numa vitória sobre um adversário criado pelo próprio guerreiro? Isso não é evolução, não é aprendizado, e sim como o cão que anda em círculos diversas vezes antes de despejar no solo suas necessidades. Que sentido há em pessoas que não conseguem dominar nem a si mesmas em situações banais, mas ainda assim querem educar filhos, ensinar outras pessoas, dirigir comunidades,fiscalizá-las, ou ainda ditar regras gerais para o mundo?
O Segredo do Áureo Florescer é acompanhado da plenitude física, psíquica e espiritual, e jamais poderá ser sequer vislumbrado, sem que o desenvolvimento dessa tríplice que une o humano ao divino. Muito pouco se pode fazer nesse sentido quando vivemos cercados de tumúltuo, pressa e desconcentração, trazidos por uma sociedade iminentemente emocional, irracional, com todas as suas cores, formas, sons e informações sem filtro algum. Cidadãos que se acham livres e almejam a felicidade, na verdade se encontram atados como marionetes, sempre contemplando a longa distância tudo o que desejam, mas raramente chegando sequer a tocar no objeto de afeição. E ainda que consigam essa façanha, não atingem nada além da decepção, por perceber que tudo aquilo não passava de um jogo de fumaça e espelhos, onde a verdadeira realização encontrava-se no lado oposto.
Como veio o homem e se distanciar tão demasiadamente de sua essência primordial?
Que valor há hoje em caminhar descalço sobre a terra, ou sair na chuva para sentir aquele incomparável cheiro de renovo, de vida? Ou mesmo observar descompromissadamente o intenso e ofuscante brilho das estrelas numa noite de verão? Onde foram parar as atitudes e pensamentos básicos que nos tornam diferentes de qualquer animal que vive por instinto, para satisfazer seus próprios ímpetos? Como podemos nos vangloriar de um cérebro tão avançado se retrocedemos a ponto de usá-lo somente para satisfazer nossos desejos egoístas e pequenos, não pensando no todo, no maior? Que tipo de ser é esse que tem a capacidade de tornar o planeta onde vive um lugar maravilhoso, pleno, frutífero e harmonioso, mas consegue ser o pior parasita que essa Terra já conheceu?
É hora de parar. Ir contra a orientação de tudo e todos... e parar.
Sem reflexão toda e qualquer ação conduz à desgraça.
É hora de lembrar do nosso papel, e apressarmo-nos a cumpri-lo em primeiro lugar.
Ocupando-nos do dever, não porque depois teremos invariavelmente alguns direitos... Mas simplesmente porque é o que deve ser feito.
Que cada um aprenda a se conhecer, assim, poderá conhecer também a verdadeira liberdade.
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