Mas afinal, do que é feito um verdadeiro homem?
Quando é o exato momento em que sabemos que um menino tornou-se homem? Pergunta difícil, não?
Olhemos ao redor:
A mulher possui um marco biológico para a passagem. Ela menstrua. Neste dia ela passa de menina a moça. O que difere uma menina de uma mulher? A mulher pode casar ou não, pode sustentar-se ou ser sustentada, pode ter filhos ou não, ela pode ser madura ou infantil, mas continua sendo uma mulher. Tornar-se mulher é um tipo de fatalidade biológica: a menina fatalmente irá tornar-se mulher, e dessa posição jamais será demovida.
Com o homem não se dá o mesmo. Todos já ouvimos alguém dizer:
Aja como homem!
Seja homem!
És homem ou rato?
Fulano não passa de um moleque!
Mas como pode ser possível que um homem adulto não seja um Homem? A pergunta não se torna absurda? Acontece que a distinção não se encontra no corpo. Este moleque poderá ter 60 anos!
Quando o menino cresce, passa por um processo corporal de virilização. Seus ossos crescem em ritmo acelerado. Sua musculatura aumenta. Nascem pelos no corpo. A voz muda aos poucos, de infantil, para rouca, e então profunda.
Todavia, essa não é a definição final de Homem. Um jovem, mesmo tendo passado por toda a virilização do corpo, ainda não se tornou um Homem. “Viril” não é uma qualidade apenas do corpo, mas também da personalidade.
Virilidade vem do radical, “vir”, de onde derivam “virtude”, “vigor”, e não é por mera coincidência: o radical latino “vir” significa “homem”. Mais precisamente, “Virtus” significa “masculinidade”, e também valor, excelência, coragem, caráter e mérito.
Os antigos romanos, de quem descendem boa parte da cultura Ocidental, possuíam uma lista de virtudes: autoridade, humor, perseverança, clemência, dignidade, disciplina, tenacidade, frugalidade, gravidade, respeitabilidade, humanidade, industriosidade, justiça, diligência, prudência, compleição, severidade (constrição), honestidade e virtus.
Apenas de olhar para a lista, logo percebemos que:
- A masculinidade é algo que se aprende: o menino aprende a ser homem com os homens. É nesta convivência que as virtudes são ensinadas, de forma didática ou por assimilação do exemplo;
- A masculinidade, em grande parte, não é inata: enquanto as paixões, de onde nascem os vícios, são uma coisa natural do ser humano, a virtude por vezes precisa ser aprendida para ser desenvolvida com muito esmero;
- A masculinidade não é um atributo que alguém pode conferir a si mesmo. O menino é reconhecido como homem pelos outros homens, que lhe tratarão de acordo.
E aqui chegamos ao Ritual: ele marca uma passagem que se incorpora à identidade. O menino ao crescer, será muitas coisas - e se cresceu adequadamente, uma dessas coisas será Ser Homem. A importância do rito está em que ela consagra o homem, premia o aspirante com reconhecimento se ele pratica as virtudes.
O rito perdeu o valor na modernidade, se tornou vazio de etapas que o antecediam: sem o aprendizado, rito algum transformará meninos em homens. Porque não é um passo de mágica: é o reconhecimento de um aprendizado que se concretiza na formação de uma personalidade, depois de muito cultivo.
Não podemos hoje simplesmente confiar nos tradicionais marcos de “passagem”: habilitação para dirigir; primeira transa; primeira barba; primeiro salário. Será que estas coisas por si mesmas transformam um menino em Homem? A esta altura de nossa reflexão, já podemos dizer, com segurança, que não.
Mas podemos confiar nisto: o cultivo de virtudes, mesmo que não tenhamos hoje rituais tão delimitados, transforma e faz a diferença entre meninos e homens.
É fácil de perceber que uma população de (h)omens desprovidos de virtudes e tomada de vícios se torna ineficiente, alijada, desfuncional, infantil, caprichosa. Não poderá prosperar porque lhe faltarão meios para tal.
As virtudes viabilizam a civilização: sem elas, retornamos ao estado natural, que é a barbárie.
De outro modo, a posse do maior número de virtudes é o que tornará o homem o mais capaz de atos grandiosos.
É tentadora, e muito divulgada a idéia de que hoje “não seriam necessários aprendizados, ritos, doutrinações, bastando somente a consciência”. Mas a realidade é que o nascer do homem é fruto do ensinamento e do esforço, e que deixado ao sabor das vontades, ninguém optaria pelo esforço ao descanso.
Deixado sozinho, o homem não amadurece. Mas o ensinamento, o rito, e o comprometimento, por outro lado, possuem o poder de gerar no homem uma consciência de sua hombridade: o tornam cioso de seu papel, e despertam nele a honra e o orgulho.
Os benefícios de uma sociedade composta de homens sólidos é sentido por todos, e produzem felicidade coletiva e individual também: é sempre melhor para o menino ser diligente em vez de indolente; ser grave em vez de ser irresponsável; ser severo em vez de ser pusilânime; ser frugal em vez de ser fútil; ser clemente ao invés de cruel; e assim por diante.
Para sermos – e para termos – Homens, devemos começar pelo mais importante: o cultivo e o aprendizado das virtudes: quanto tudo parece confuso, e nada mais parece valer, são estas coisas que nos devolvem o propósito.
Alguém poderá objetar “mas isso não é natural, é socialmente construído!” Sim, é. Assim como muitas das coisas mais belas e importantes para nossas vidas foram construídas: é da natureza do homem transcender o estado natural e tornar-se senhor do seu destino.
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