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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Back to Green




"devemos correr contra as forças da escuridão... todo o mal do mundo, todo o ódio."



Nessas férias tive oportunidade de conviver e refletir sobre extremos. Mas o próprio conceito de extremos já é extremamente delicado, quando tomado por um ser que nasceu, foi criado e teve toda sua existência formada quase que exclusivamente por selvas de concreto, mediações digitais, informações intensamente tendenciosas e valores fortemente transformados.

A verdade é que as duas cenas antagônicas descritas nas imagens refletem o tipo de divergência que experimentei.

De um lado temos o homem escravizado, domado, influenciado e rendido a um estilo de vida, a uma ditadura da informação. Um meio que faz com que ele se perca entre dados, números, notícias, boatos e meias-verdades. É o típico homem infestado pelo vírus da sociedade e do estilo de vida formatado, padrão. Cujo único objetivo é correr atrás de metas e sonhos colocados em sua mente sabe-se lá por quem. Enfim, uma vida repleta de desejos, que são sempre colocados acima das necessidades. Esse homem, portanto, se torna escravo de seu próprio ego, de suas próprias emoções, construindo para si ideais aparentemente genuínos, mas basta uma olhada superficial para o lado, para ver uma multidão de zumbis que sonham e anelam com todas as forças exatamente pelas mesmas coisas. Algo realmente intrigante, quando consideramos ter vindo do ser mais desenvolvido, racional, divergente e contraditório da natureza. Esse é o homem que escravizou a si mesmo, com grilhões que alcançam até mesmo quem os criou.

Por outro lado, conheci a incrível história de Christopher Johnson McCandless. Um jovem norte-americano que resolveu abandonar todo o conforto, diploma, dinheiro e 'sonhos' que tinha na vida para se aproximar um pouco mais de sua essência, se aventurando numa caminhada rumo ao desconhecido, apenas com o rumo de chegar ao Alasca. A história dele acabou dando origem a um livro lançado em 1996, com o título orignal de Into the Wild, por Jon Krakauer, adaptado para os cinemas em 2007 sob a direção de Sean Penn, com o título em português de "Na Natureza Selvagem".

“(…) SEM JAMAIS TER DE VOLTAR A SER ENVENENADO PELA CIVILIZAÇÃO, FOGE E CAMINHA SOZINHO PELA TERRA PARA SE PERDER NA FLORESTA”


Inspirado por escritores como Jack London, Hendy David Thoreau e Leo Tolstoy, esse jovem criou uma certa aversão à sociedade e todo o sistema que havia sido criado e se enraizado profundamente nas pessoas, que não mais pensavam, jamais o questionavam, apenas viviam. Me identifiquei grandemente com a atitude e os pensamentos de Christopher, principalmente na parte de não questionamento de algumas verdades absolutas. Conversando com uma amiga ultimamente fui questionado sobre que coisas eu ensinaria para os meus filhos...
Como muitos sabem sou cristão, frequento uma igreja evangélica, mas não sigo tanto o padrão psicológico da maioria das pessoas que conheço ou convivo. Tenho curiosidade e dificuldade de engolir padrões, principalmente comportamentais, sem alguma explicação, ou razão; ou seja, sou o tipo de pessoa que busca entender o porque de alguma coisa antes de segui-la ou adotar como verdade pra minha vida.
Então o que eu respondi a essa minha amiga foi que eu ensinaria apenas duas coisas a meus filhos: a primeira são os caminhos de Deus; Seus princípios, mandamentos éticos, morais e explicarei paulatinamente a razão de tudo aquilo; o porque de agir assim e assado e não apenas: faça isso porque é o certo, ou porque Deus mandou, ou porque Ele vai te castigar se vc não obedecer.
A segunda é intimamente ligada a essa primeira, que é justamente aprender a pensar e questionar as coisas; sobretudo eles, que viverão numa era altamente intoxicada pelo espetáculo, pelo estilo de vida massificado, por padrões muito restritos de conduta e 'normalidade'.
Sou do partido de que devemos tratar uma pessoa desde sempre como se ela já fosse aquilo que desejamos que ela se torne. Logo, se quero que meus filhos, ou qualquer outra pessoa se torne um ser pensante, inteligente, capaz de compreender e modificar o meio em que vive, eu me recuso a colocar verdades inexplicadas na cabeça deles, uma vez que da mesma forma que eu coloquei dogmas incontestáveis na cabeça deles, voltados pro que EU acredito ser certo, outras pessoas, situações ou experiências podem fazer o mesmo, e claro, nem sempre pendendo para coisas desejáveis (sobretudo nos dias de hoje).

Enfim, o que mais me impressionou na longa jornada desse garoto foi como a simplicidade, a naturalidade e a paz que ele tinha dentro de si, eram facilmente absorvidas por outras pessoas, que já possuiam de certa forma, uma maturidade comportamental e espiritual pra isso.
Digo, alguém que estava num caminho como o dele, limpando de si doses hemeopáticas de veneno social e mental, quando caminha pelas ruas de uma grande metrópole, vai ser visto como um desajustado, um coitado, um perdedor, nessa vida onde vencer é ter sucesso social, financeiro, poder, profundamente imerso nos conceitos da tão glamourosa high-life (objetivo máximo de vida para a esmagadora maioria dos jovens atuais); mas quando encontrava pessoas simples, desapegadas, com o conteúdo lapidado interiormente e não externamente, Christopher parecia trazer à tona o melhor de cada pessoa, se tornando alguém quase que insubstituível para a compreensão de certas coisas. Sendo que o único dom ou talento sendo demonstrado por aquele jovem era a simplicidade, a naturalidade, a essência do homem, a longo tempo abandonada.

Quantas vezes por semana, mês ou ano que nos permitimos pisar descalços numa grama úmida após uma noite de sereno até sentir a terra revirar sob nossos pés, ou encher com vontade nossos pulmões com a primeira brisa da manhã? Quantos aqui tiram que seja, segundos de seu precioso tempo, para contemplar a infinitude das estrelas que nos observam silenciosamente no vazio da noite? Ou mesmo nos colocarmos embaixo de uma cachoeira, e sentir aquela água gelada, pura e cristalina lavando toda nossa carga de stress, inquietação e urbanismo?

São coisas assim de que precisamos, voltar um pouco para a essência, ter o mínimo contato que seja com a vida natural, nos afastando dos animais violentos e egoístas que temos nos tornado, e paradoxalmente ou não, buscar mais contato com a nossa natureza selvagem!








“Tive uma vida feliz, e agradeço ao Senhor.
Adeus e que Deus vos abençoe a todos”.

Christopher McCandless

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O Lamento do velho Benjamin




e assim continuava pelo caminho aquele homem surrado, deprimido, malfalado, que inacreditavelmente ainda exprimia um sincero sorriso em seus lábios. essa é aquela estrada de solo tão virgem, onde tão poucos homens haviam trilhado,
a estrada daqueles que amam o conhecimento (logos), daqueles que amam (philos) a sabedoria (sophia)!





Já não cabe mais a qualquer formador de opinião bater na tecla da contemporaneidade utilitarista. É de sapiência de todos como as coisas hoje só adquirem sentido ou possuem valor agregado numa proporção direta à utilidade, proveito e realização que elas trazem para o receptor do que seja; uma informação, uma atitude, um pensamento, enfim...
Somos avaliados não por nossos pensamentos, nossos esforços, nossa dedicação, lealdade ou pelos fins que buscamos com qualquer ação, mas unicamente pelo efeito interpretado por cada cabeça diante daquela atitude.
Em termos práticos e atuais poderia citar aqui a eliminação do Brasil e a crucificação de Dunga, que notadamente procurou fazer um trabalho sério, coerente, diferenciado e exemplar. Mas isso de nada tem valor se o resultado não veio; sendo de fácil assunção o fato de que um técnico incompetente, desregrado e máu caráter seria coroado e ovacionado por todo o país caso conseguisse resultados mais eficazes que o primeiro.

Essa tendência é consequência direta da mentalidade atual de uso e descarte tanto de pessoas, como de coisas, situações ou pensamentos. Não importam os meios, desde que o fim seja aquele que eu desejo. Desejo que difere-se completamente de necessidade. Criamos metas, alimentamos sentimentos cegamente, e também cegamente agimos diante das atitudes, escolhas e meios escolhidos pela outra pessoa. O que ou como ela vinha agindo perde totalmente o crédito, desde que meu desejo, meta ou sonho não venha a ser atingido.

Traço esse, proveniente de incrível infantilização social e psicológica, fruto de uma sociedade que gera cada vez mais, crias treinadas para superar, rebaixar e desprezar quem se coloca na frente de suas ambições, emoções ou desejos insólitos. É aí que a razão, que já vinha sendo relegada a raros momentos de lucidez, é completamente extirpada de qualquer juízo de valor que se possa buscar. Uma cultura recheada de anseios, emoções, que naturalmente passará a dar lugar à ódio, rancor, ressentimento, com síndrome global de perfídia.

O que pode fazer então aquele que buscava honestamente cumprir com suas obrigações por si mesmo, e para si mesmo, baseado em sua moral geral, ética universal e outros princípios duramente lapidados por experiências das mais sórdidas?

Qualquer ser dotado do mínimo senso de justiça poderia citar inúmeras respostas para isso, mas a verdade, é que aquele que possui os atributos citados no parágrafo acima, nada mais pode fazer a não ser lamentar por esse infeliz e ingrato sentimento gerado por inegáveis males da caixa de Pandora e recluir-se, uma vez que o silêncio muitas vezes é a resposta mais efusiva e sincera de um homem que se conhece, confia em Deus e seus desígnios. Ao mesmo tempo, desejando que todos aqueles que dessa forma procederam tenham a infinita sorte ou divina luz, de com essas situações aprender, crescer, fortalecer-se, desejar o bem e jamais o mal, buscar consolo, entendimento e sabedoria, e não vingança e autodestruição (fim inegável de qualquer que busque o mal contra si ou seu semelhante)... como aquele homem certamente já havia feito tantas e tantas vezes em sua vida, ou do contrário, não teria qualquer condição de estar aqui lhes escrevendo isto.








'with great power comes great responsability'

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O Mito do Amor Romântico

A maneira como se dá os relacionamentos em nossa sociedade é interessante sob vários aspectos. Otimiza o cuidado parental, torna a família uma célula organizada da sociedade, permite a estipulação dos papéis sociais de forma clara. Enfim, é parte de um sistema social que indubitavelmente promove a coesão da espécie.

Mas para que estes relacionamentos ocorram, é necessário subjugar alguns comportamentos instintivos à outros. Estes últimos foram supervalorizados em nossa cultura, gerando valores que podem ser denominados de forma única como amor romântico. Este mito exige um sentimento idealizado e vem acompanhado de uma série de exigências extremadas, que levam à eterna frustração e à rima poética na forma de doxa entre amor e dor.

Vamos analisar, então, o que caracteriza o amor romântico como um mito a ser extinto.

Característica 1: O verdadeiro amor é único e eterno.



A cada vez que nos apaixonamos, aquele parece ser o “verdadeiro amor”, e acreditamos que ele durará para sempre. Esquecemos que pensamos o mesmo de cada amor passado e já findo. Se acabou, consideramos que o relacionamento não deu certo – mesmo que ele tenha durado 10 anos!

Esta crença leva a inseguranças e frustrações.

Insegurança, porque o(a) parceiro(a) provavelmente teve outros amores antes. E se este amor anterior é que era o verdadeiro, não haverá lugar para você.

Frustrações, porque se o amor deve ser eterno nos esforçaremos ao máximo para mantê-lo – mesmo que ele tenha se acabado.

A verdade é que nós temos vários amores durante a vida, mesmo porque não somos sempre os mesmos. Cada amor é verdadeiro em seu contexto.

Característica 2: O amor verdadeiro se dá entre almas gêmeas.



Cada indivíduo é composto por suas características inatas e o conjunto de experiências pessoais. A possibilidade de existirem duas pessoas iguais, ou perfeitamente complementares, tende a zero partindo do universo negativo. Ou seja, é mais fácil ganhar na mega-sena.

O amor sólido, que permite uma boa convivência e traz satisfação a ambas as partes, na realidade só exige alguns interesses em comum, uma certa similaridade intelectual, e, principalmente, o compartilhamento de valores básicos.

É como as grandes amizades, que perduram por anos. Amores têm que ser, basicamente, amigos. Este é o máximo de similaridade concretamente possível.

Característica 3: Dedicação exclusiva.



O amor verdadeiro nos completa em todos os aspectos. Família e amigos devem ser acessórios secundários e dispensáveis. Suas atividades são sempre conjuntas, porque tudo se torna tedioso quando o grande amor não está presente. Não são mais indivíduos em separado – são agora um só, indissociáveis.

Bem, a grande verdade é que não há pessoa no mundo que possa nos completar em todos os aspectos. Isso porque, além de não existirem almas gêmeas, é impossível que uma mesma pessoa ocupe todos os loci sociais de nossa vida.

Isso leva a cobranças e mais frustrações. Exigimos esta onipresença do(a) parceiro(a), e queremos que ele(a) vista o papel de nosso próprio espelho. Além disso, perdemos nossa própria individualidade.

Característica 4: Fidelidade absoluta.



liv tylerSe há um grande amor, não é possível que haja o desejo por outras pessoas. Temos o direito e o dever moral de cobrar este comportamento do outro, e a infidelidade sexual é a maior traição possível dentro de um relacionamento romântico.

Não vou defender, por isso, que não haja monogamia. Sentimos ciúmes, insegurança, queremos o outro em exclusividade. Tudo bem.

Não é necessário, entretanto, colocar o outro em uma redoma de vigilâncias e cobranças, e se sentir ultrajado(a) ao menor sinal de que seu parceiro(a) percebe que existem outras pessoas no mundo além de você.

Seu namorado não está te traindo ou pensando em te deixar só porque ele assiste vídeos pornôs na internet ou tem sua coleção particular da Playboy. Conversar com aquela amiga não significa que ele tenha a intenção de levá-la para cama – e, se tiver, não é você proibi-lo que vai impedir que aconteça.

Sua namorada pode perfeitamente se dizer atraída pelo Antônio Banderas sem, no entanto, considerar que ele seria melhor para ela do que você. Os amigos dela provavelmente são amigos, mesmo. Se ela tivesse interesse sexual neles, estaria com eles – nada a prende a você, a não ser a vontade dela. Sair com roupas curtas que atraem a atenção de outros homens significa que ela gosta de ser desejada, mas não significa que ela queira exercer este desejo com outro homem que não você.

A neurose da infidelidade só leva ao stresse de ambas as partes no relacionamento, e não há nenhuma maneira efetiva de evitar que traições aconteçam. Qual o sentido, então?

Característica 5: Homem não chora e mulheres são anjos sexualizados.



O homem perfeito no amor romântico não sente insegurança ou medo. Não fracassa nunca. É o provedor, o protetor inabalável, cheio de coragem, inteligência, honra e senso de justiça. Ele pode tudo, mas é também sensível, compreensivo e apaixonado. Enfim, é uma mistura bizarra de Chuck Norris e Humphrey Bogar em “Casablanca”.

Seria ideal que, ao passarmos da infância, pudéssemos perceber que super-heróis não existem. Mas estamos na infância dos nossos valores romantizados. Os homens acreditam que este ideal platônico deva ser atingido, e são pressionados por todos e por eles mesmos para serem nada menos do que isso. Simples, né?

As mulheres também acreditam que isso exista. Sonham com este homem! Assim, além de auxiliarem muito nesta pressão social insana sobre o ideal masculino, se sentem eternamente frustradas por não encontrá-lo.

Já as mulheres, no ideal romântico, são anjos. Musas de inspiração para os poetas, dotadas de beleza e delicadeza sem igual na natureza. São virtuosas e pacientes, com uma sensualidade que deve explodir no momento certo. É a mistura de Marylin Monroe com Liv Tyler no papel da princesa elfa Arwen (Senhor dos Anéis).



Não preciso dizer que este ideal de beleza leva as mulheres á anorexia, implantes de silicone, botox e a eterna insatisfação com a própria aparência. Assim como os homens, elas também acreditam que o ideal existe sem Photoshop e que deve ser conquistado.

A idéia da “put@ na cama e perfeita dama na sociedade” gera patricinhas frescas nas ruas que fingem orgasmos com os respectivos parceiros na cama, e que mesmo assim estão a anos-luz da mulher ideal. E sabem disso.

Os homens, imersos nesse conto de fadas, colocam as mulheres num pedestal do qual elas jamais podem cair. Se frustram, é claro. Ao mesmo tempo, se sentem fracassados por não conseguirem conquistarem mulheres ideais – e não percebem que não conseguem simplesmente porque elas só existem em suas ilusões.

É engraçada essa contradição que existe no amor romântico. Exigimos do outro qualidades que nós mesmos somos incapazes de ter.

A verdade é que o protótipo do homem ideal dificilmente seria um bom companheiro numa relação duradoura. Ele seria inacessível e perfeito demais. Não é o tipo do homem que vai tomar sorvete sentado com você na escada da entrada do prédio, que vai assistir filmes trash de zumbis na seção coruja ou que vai realmente entender e compartilhar o medo que você está sentindo de encarar a entrevista de emprego na manhã seguinte.

Já a mulher ideal não te acompanharia no churrasco de domingo, não assistiria filmes de ação ou terror com você de madrugada, não seria capaz de te apoiar numa decisão difícil e você deveria sempre ser responsável por ela.

Conclusão



O principal motivo de desentendimento entre homens e mulheres em um relacionamento ocorre porque não somos conscientes dos paradoxos de nosso comportamento social, e cada um dos gêneros se sente insatisfeito no que se refere aos seus desejos. O culpado sempre é o outro, por representar exigências que levam inexoravelmente á frustração.

Mas nós somos pessoas, com defeitos e qualidades, e contos de fadas não existem. E é bom que seja assim. Está na hora de crescermos.



por Paula M. Costa

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O sexo triste dos jovens


"Procuro ser aberta ao novo, ao que me agrada no novo e também ao que exige um certo tempo para ser assimilado. Às vezes há o que não vale a pena ser assimilado, então, vou buscar outras paisagens. Eventualmente não sabemos se vale ou não, então, a gente fica humilde e espera. Uma novidade (para mim) espantosa, narrada e confirmada em mais de um lugar no país, é dessas que não quero assimilar. Se possível, enterrava numa cova funda, varrida para baixo de mil tapetes, fazia de conta que não existia: o sexo (ou simulacro de sexo) sem encanto, sem afeto, sem tesão, o sexo triste ao qual são coagidos pré-adolescentes, quase crianças, em famílias de classe média e alta. Essas que pensamos estar menos expostas às crueldades da vida.

Talvez eles não precisem comer lixo, correr das balas dos bandidos, suportar brutalidades e incestos, tanto quanto os mais desvalidos. Seu mal vem sob outro pretexto: o de ser moderno e livre, ser aceito numa tribo, causar admiração ou inveja. Cresce, que eu saiba, o número de meninas de 12 a 14 anos grávidas. O impensável ocorre muitas vezes em festinhas nas quais se servem bebidas alcoólicas (que elas tomam, ou pagariam mico diante das amigas, e com essa desculpa convencem os pais confusos), não há nenhum adulto por perto (seria outro mico, e assim elas chantageiam os pais omissos), e ninguém imaginaria o que ia rolar.

Nessas ocasiões pode rolar coisa assombrosa sob o signo da falta de informação, autoridade e ação paternas. Nem sempre, mas acontece. Crianças bêbadas no chão do banheiro de clubes chiques, adultos cuidando para não sujar o sapato no vômito não são novidade (ambulância na porta, porque algumas dessas meninas ou meninos passam mal de verdade); quantas meninas consigo beijar na boca numa festinha dessas? Em quantos meninos consigo fazer sexo oral? Sexo que vai congelando as emoções ou traz uma doença venérea, quem sabe uma absurda gravidez – interrompida num aborto, de sérias consequências nessa idade, ou mantida numa criança que vai parir outra criança.

"Roubaram a sexualidade desses meninos", me diz uma experiente terapeuta. Não deixaram tesão nem emoção, mas uma espécie de agoniado espanto, nessas criaturas inexperientes que descobrem seu corpo da pior maneira, ou aprendem a ignorá-lo, estimuladas ou coagidas por incredulidade ou fragilidade familiar, pelo bombardeio de temas escatológicos que nos assola na TV e na internet, com cenas grotescas, gracejos grosseiros em torno do assunto – "valores" e "pudor", palavras hoje tão arcaicas. Efeito da pressão de uma sociedade imbecilizada pela ordem geral de que ser moderno é liberar-se cada vez mais, sem saber que dessa forma mais nos aprisionamos. Precisamos estar na crista da onda em tudo, tão longe ainda da nossa vida adulta: sendo as mais gostosas e os mais espertos, desprezando os professores e iludindo os pais, sendo melancolicamente precoces em algumas coisas e tão infantilizados e ignorantes em outras, nisso incluindo nosso próprio corpo, emoções, saúde e vitalidade.

A nós, adultos, cabe não desviar os olhos, mas trabalhar na esperança (caso a tenhamos) de que nossos adolescentezinhos, às vezes ainda crianças, vivam de maneira natural essa delicada fase, e um dia conheçam o sexo com ternura, na tesão de sua idade – forte e boa, imprevista e imprevisível, com seu grão de medo e perigo, beleza e segredo. Que essas criaturinhas sejam mais informadas e mais conscientes do que, muito mais protegidas que elas, nós éramos. Mas seguras e saudáveis, não precisando lesar sua bela e complexa intimidade com tamanha violência mascarada de liberdade ou brincadeira. Sobretudo, sem serem estimuladas a lidar de modo tão insensato com algo que pode lhes causar traumas profundos, ou anular um aspecto muito rico de sua vida. É difícil, mas a gente precisaria inventar um movimento consciente, cuidadoso, responsável, contra essa onda sombria que quer transformar nossas crianças em duendes pornográficos, deixando feias cicatrizes, e fechando-lhes boa parte do caminho do crescimento e do aprendizado amoroso." Lya Luft

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Wearing & Tearing







do cvidanja...










seek the hidden words
as time unfolds
you'll find the answers








































































Oh nothing’s gonna change my love for you
I wanna spend my life with you
So we make love on the grass under the moon
No one can tell, damned if I do
Forever journeys on golden avenues
I drift in your eyes since I love you
I got that beat in my veins for only rule
Love is to share, mine is for you

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A fé racional


"O conceito de Deus, e mesmo a convicção de sua existência, que só podem ser encontrados na razão, decorrem unicamente dela e não nos podem ser dados por inspiração nem por uma informação que fosse comunicada, mesmo pela maior autoridade. Se me ocorrer uma intuição imediata de tal espécia que a natureza, tanto quanto sou capaz de conhecê-la, não pode fornecer, tem de haver, no entando, um conceito de Deus para servir de fio condutor para que eu saiba se o fenômeno concorda também com tudo o que se exige como característica de uma divindade. Mesmo se absolutamente não compreendo como seria possível que um fenômeno qualquer represente, mesmo apenas quanto à qualidade, aquilo que se pode unicamente pensar mas não pode jamais ser intuído, pelo menos é bastante evidente que, apenas para julgar se é Deus o que me aparece e que atua interna ou externamente sobre minha sensibilidade, devo submetê-lo ao meu conceito racional de Deus e, em seguida, examinar não só se é adequado a ele, mas se não o contradiz.

À firmeza da fé pertence a consciência de sua invariabilidade. Assim, posso estar inteiramente certo de que ninugém me poderá refutar a proposição: Deus existe. Pois, de onde o adversário extrairia essa compreensão? Por conseguinte, não se dá com a fé racional o mesmo que com a crença histórica, a respeito da qual o surgimento de demonstrações em contrário é sempre possível, e devemos estar preparados para mudar de opinião sempre que se amplicar o nosso conhecimento do assunto." - Immanuel Kant

terça-feira, 18 de maio de 2010

Athena's Last Stand

"Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: só repetimos seu processo mental. Trata-se de um caso semelhante ao do aluno que, ao aprender a escrever, traça com a pena as linhas que o professor fez com o lápis. Portanto, o trabalho de pensar nos é, em grande parte, negado quando lemos. Daí o alívio que sentimos quando passamos da ocupação com nossos próprios pensamentos à leitura. Durante a leitura nossa cabeça é apenas o campo de batalha de pensamentos alheios. Quando estes, finalmente, se retiram, que resta? Daí se segue que aquele que lê muito e quase o dia inteiro, e que nos intervalos se entretém com passatempos triviais, perde, paulatinamente, a capacidade de pensar por conta própria, como quem sempre anda a cavalo acaba esquecendo como se anda a pé. Este, no entanto, é o caso de muitos eruditos: leram até ficar estúpidos. Porque a leitura contínua, retomada a todo instante, paralisa o espírito ainda mais que um trabalho manual contínuo, já que neste ainda é possível estar absorto nos próprios pensamentos."¹





Volta e meia a vida nos conduz por caminhos tortuosos, trágicos, e outras vezes cômicos.
Sempre busquei com primor o desenvolvimento das faculdades humanas na leitura e no aprendizado através do conhecimento que por milhares de anos, os melhores homens que por essa Terra passaram deixaram como legado. Não me parecia razoável buscar em poucas dezenas de anos algo de muito grande, tendo ignorado séculos e mais séculos de vivências das mais variadas, passadas por mentes diferentemente constituídas e moldadas, estilos de vida diversos, e percepções tão amplas quanto o universo.

E sempre, nos momentos mais difíceis, quando caminhava na beirada do penhasco ou no reluzente fio da navalha, lá estavam os escritos, as reflexões... Pensamentos ditos por outras bocas, frutos da vivência de outras almas, ideologias e sabedorias apossadas, mas ao mesmo tempo tão minhas. Que traziam luz e amparo sem igual para o que me ocorria. Era como se as frases do Octavarium² se repetissem sempre em algum lugar recôndito da minha mente:

'Nós nos movemos em círculos
Balançamos o tempo todo
No reluzente fio da navalha

Uma esfera perfeita
Colidindo com nosso destino
A história acaba aonde começou'


É nesses momentos que inconscientemente formas, cores, rostos, lugares e situações diversas se desenham no quadro branco que outrora guiava meus passos. Quantas vezes eram as únicas palavras que me ocorriam. A necessidade delas causava temor e certa angústia. O estigma do desenvolvimento paralizado causa espécie a mentes ávidas por progresso, desenvolvimento, superação. A que mais seria atribuído por exemplo a constituição do Super-Homem proclamado por Zaratustra? Que outra matéria prima poderia ser responsável pela conjugação de corpo, alma e espírito, se não o desejo de crescer, aprender, melhorar, e seguidamente transmitir, ensinar e discipular?

O tempo é inimigo de todo grande homem, que tem áscuo pela inércia, pela escravização do corpo e dos sentidos pelo sistema que nos transforma em marionetes e nos mantém sempre entretidos, falantes, risonhos e esperançosos (pelo quê?). O tempo sim é algo implacável, impiedoso e único. O que me faz lembrar de sua importância nas lições do lendário Musashi³, que provavelmente soariam quase que como sarcasmo para o homem médio atual.

O homem médio, que na esfera jurídica é sinônimo de qualidade, elogio e idealismo; mas para o Super-Homem é nada mais que nada, que mais um. Homem médio soa como medíocre, que não faz diferença pro bem, apenas não faz para o mal. E nesse ponto talvez até mesmo um homem mal seria de maior utilidade à civilização, pois é através deles que o bom se destaca e é reconhecido. O médio moderno é ainda pior, pois a todo momento é colocado diante de oportunidades de alçar voo mas escolhe aprisionar-se voluntariamente; é o homem que entra em contato com preciosos tesouros mas lhe dá as costas, que conhece grandes mestres e ouve grandiosas lições mas as atira ao vento, ocupando-se de trivialidades e futilidades. É desse homem que deve-se ter pavor, pois é o que tem potencial para tornar-se grande, mas não o aproveita. O que dizer dos miseráveis par excellence? O Super-Homem tem pavor do homem médio e tudo que ele representa. Ele passa longe do mundano, do mediano, do irrelevante, e o sobrevoa com categoria e sem olhar para baixo.

Que o bom Deus nos livre do deserto, do disperdício e da possibilidade de que a preciosidade da vida, o alento do bem, da sabedoria e da plenitude nos agraciem e permita-me contemplar do mais alto monte, a prosperidade do equilíbrio que vem de dentro, e transborda por não ter mais para onde ir neste ser. Que o homem, que é a corda estendida entre o animal e o Super-Homem possa encontrar seu papel em si mesmo. Que o homem que hoje vos fala, aprenda a viver, como que se extinguindo, pois o maior valor que há no homem, é ser uma ponte para algo melhor, não um fim em si mesmo.




'Amo o que prodigaliza a sua alma, o
que não quer receber agradecimentos
nem restitui, porque dá sempre e não
quer se poupar.'
assim falava Zaratustra
















¹:Arthur Schopenhauer - Sobre livros e leitura: excerpt from Parerga e Paralipomena

²: Octavarium - Razor's Edge (Rudess, Jordan; Labrie, Kevin James; Portnoy, Michael; Petrucci, John; Myung, John)

³: As 21 lições do Mestre Musashi Miyamoto:

1. Eu nunca ajo contrário à moralidade tradicional.
2. Eu não sou parcial com nada e nem com ninguém.
3. Eu nunca tento arrebatar um momento de sossego.
4. Eu penso humildemente de mim e grandemente para o público.
5. Sou inteiramente livre de ganância em toda minha vida.
6. Eu nunca lamento o que já fiz.
7. Eu nunca invejo a boa sorte dos outros, mesmo estando com má sorte.
8. Eu nunca aflijo-me por qualquer um, qualquer coisa ou qualquer tempo.
9. Eu nunca censuro ninguém, ou me censuro para alguém.
10. Eu nunca sonho em apaixonar-me por uma mulher.
11. Gostar e não gostar de algo, é um sentimento que não tenho.
12. Qualquer que seja a minha moradia, eu não tenho nenhuma objeção à ela.
Samurai13. Eu nunca desejo um alimento saboroso.
14. Eu nunca tenho objetos antigos ou curiosos em meu poder.
15. Eu nunca faço purificação ou obstinência para proteger-me do mal.
16. Eu não tenho apreço por nenhum objeto, exceto espadas e outras armas.
17. Eu nunca daria minha vida por uma causa injusta.
18. Eu nunca desejo possuir bens que tornem minha velhice confortável.
19. Eu adoro deuses e budas, mas nunca penso em depender deles.
20. Eu prefiro me matar do que desonrar meu bom nome.
21. Nunca, nem por um momento sequer, meu coração e minha alma desviaram-se do caminho da espada.