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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Far beyond the rising sun





Bom, não é de hoje que sou fã do oriente, por vários motivos... mas sem dúvida o principal deles é o objeto desse post, que eu já deveria ter feito a muito tempo, visto que grande parte do embasamento principiológico que levo na minha vida e consequentemente nos meus textos vem da cultura do leste.

Primeiro, é importante deixar claro que vivo num país onde pouquissimas pessoas tem influência, contato ou sequer respeito pela cultura oriental... indo no máximo em um restaurante chinês com os pais uma vez por mês, ou comendo um temaki com os amigos esporadicamente. Pois bem, não curto muito a culinária japonesa... a idéia de comer um peixe da forma como ele nada, apenas tirando a pele, não me atrai muito. Não entendo muito também o humor deles, embora ache algumas coisas que eles inventam realmente engraçadas de tão toscas, como aquelas pegadinhas sem noção ou aquelas coisas estilo "human tetris" ou aqueles quadros como o da biblioteca, onde todos devem fazer silêncio enquanto pagam umas prendas pra lá de bizarras, enfim...

Isso são apenas divergências culturais, não dá pra nivelar uma comida pelo gosto e nem o entretenimento pelo estilo de humor. O que dá pra se comparar igualitáriamente são os valores de cada povo. Partindo, obviamente de um pressuposto definido, que no meu caso, são valores morais e éticos que tenho por certos, como os que sempre defendo aqui e na minha vida pessoal.

Pois bem, primeiro vamos entender os principais meios de transmissão de valores de cada cultura... primeiro os ocidentais, que transmitem seus valores na literatura, na poesia, no teatro, cinema, novelas, música e em ritos populares e folclóricos. Os orientais, primam pela literatura, diversos ritos religiosos milenares, provérbios práticos, por sua história em si, por animações, etc...

Meu objetivo ao escrever aqui não é o de colocar na balança as duas culturas, até porque é impossível viver no ociente com influências puramente orientais, sendo que pra isso seria necessária uma total abstração da realidade e de tudo que nos cerca. Logo, seria interessante buscar a completude desses valores e ideais, por meio da análise no que nos falta em termos morais e principiológicos, que estão repletos na cultura oriental.

Temos hoje, na mídia ocidental, pouquíssimos e paupérrimas fontes válidas do que deveriamos conhecer na cultura oriental, seja através de filmes, animes, alguns textos esparsos e pouco divulgados, etc... Eu sugiro de início que alguém assista a filmes, que apesar de hollywoodianos, mostram algo a ser notado na cultura e no pensamento nipônico... filmes como O Último Samurai, O Mito (com Jackie Chan), o Tigre e o Dragão, e Memórias de uma Gueixa.

Vendo essas produções, ou se preferirem ir mais fundo e assistirem animes como Dragon Ball (principalmente a primeira saga, com o Goku pequeno), Yu-Yu Hakusho, One Piece e Rurouni Kenshin (Samurai X), vocês com certeza terão contato com novos conceitos de amizade, lealdade, honra e submissão.
Verão o quanto eles amam menos a vida do que nós, mas amam infinitamente mais coisas que, pelo menos a meu ver, realmente valem mais que a vida, como valores e ideais maiores a serem buscados.
É incrivelmente inspirador ver exemplos de pessoas que escolhem colocar seus objetivos acima de tudo, crendo que aquilo é o que deve ser feito (submeter nossas vontades às exigências do dever - virtude e moral para Kant). Digo, se fossemos menos egocentristas, vivêssemos menos pra nós mesmos e mais pra algo maior, com certeza o mundo sofreria mudanças drásticas. Imaginem o mundo com premissas fundamentais pautadas em valores e não em vidas, em ideais, não em preservações inúteis. Como podemos imaginar por exemplo, um jovem de classe média de qualquer grande cidade brasileira, ou americana, escolhendo por ideal de vida construir algo que será boa pra toda a humanidade, ao invez de passar seus dias investindo em um futuro melhor somente para si e no máximo para sua própria família?

Fica fácil concluir, portanto, que concretizando ideais ocidentais, por mais altruístas que sejam, teríamos no máximo a realização do bem para um grupo de 4, 5 pessoas... e objetivando a realização do ser através de ideais orientais, teríamos uma sociedade como um todo, melhor e mais digna.

Mas eu pergunto como isso seria sequer possível de passar pela cabeça de jovens que hoje em dia são criados a pão-de-ló, dentro de apartamentos, cercados de mordomia e pelúcias, roupinhas caras e futilidade? Com valores onde o importante é sair na rua e atrair olhares luxuriosos, ao invez de buscar algo pelo qual valha a pena viver, e até morrer?
Uma reforma ética monstruosa seria necessária na mentalidade de todas as pessoas se quisermos algum dia pelo menos sonhar com isso. É algo tão praticável, mas ao mesmo tempo tão distante...

De onde será que sai a força pra fazer um país se reconstruir totalmente e ainda passar na frente do mundo inteiro em poucas décadas, como fez a China? Como será que consegue o Japão ser tão superior a todo o resto do mundo em termos de conhecimento lógico, matemático e científico, e ao mesmo tempo possuir algumas das maiores lições humanistas às quais temos acesso? Como será que um país com 1 bilhão de camponeses, em pouquissimos anos se tornou a economia com maior crescimento anual, mostrou ao mundo os melhores atletas na última olimpíada e mantém esse ritmo com total estabilidade? Porque será que praticamente todos os vídeos incríveis que vemos de crianças com menos de uma década de vida executando peças musicais complicadíssimas, ou resolvendo cubos mágicos ou mesmo demonstrando talento intelectual são em sua esmagadora e quase total maioria, orientais? Será que eles conseguiram isso com uma vida voltada para o prazer como prega a cultura ocidental? Ou quem sabe como, afinal são só um bando de nerds psicopatas que não tem vida, segundo nosso modo de ver, certo? Pois eu digo que eles tem uma disciplina e uma determinação que batem na cara de tudo o que estamos acostumados... isso se dá pela história de renúncia e sofrimento que marca a vida de cada um e do país deles em si. Sofrimento que produz humildade, que produz gratidão, que produz ação. Cada escolha com sua renúncia... podemos continuar torcendo o nariz pra quem está no topo, enquanto nos lamentamos no vale, ou então podemos rapidamente nos decidir a escalar, não importa o preço que isso custe.

Talvez seja hora de aprender com quem tem milênios de valores minimamente modificados, ao invez de insistirmos em nos pautar em condutas e ideais que mudam após cada golpe de estado, após cada revolução intelectual, ou de cada nova novela que passa na televisão... vamos aprender com quem nos dá um banho em força de vontade, determinação e valores... Um desenho bobo com cabeçudos de olhos arregalados tem muito mais do que parece pra oferecer a quem tenha uma mente voltada pra filtrar coisas realmente relevantes... vamos levantar a cabeça e sonhar grande, pois quem sonha pequeno, não sonha com coisa alguma.


Honra, dignidade, sacrifício ou sucesso, fama e poder?

a escolha é sua.


"Infelizmente os mendigos espirituais de nossos tempos estão por demais inclinados a aceitar as esmolas do Oriente e a imitar irrefletidamente seus costumes."
C.G.Jung

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