Muito se fala sobre as tendências contemporâneas... em suas diversas vertentes, as áreas de conhecimento atuais se resumem fundamentalmente na ciência, na psiquica, e na estética. Tudo em busca, principalmente hoje, da plenitude, da felicidade e do sentido.
Fato é que no final de tantas descobertas, o ser humano sempre acaba encontrando no amor a resposta pra tais indagações históricas. Todo ato do ser humano reflete-se numa forma de procurar ser amado, querido, ou uma manifestação positiva ou negativa consequente do amor ou de sua falta.
Semanas atrás tivemos uma série de estudos que falam sobre união, e consequentemente, amor. Foi dito que o amor é uma escolha, uma atitude. Concordo. Agora como conseguir escolher e efetivar com atos o amor aos que geralmente não amariamos? A Bíblia diz no livro de Mateus, a partir do verso 44:
"Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.
Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? não fazem os publicanos também o mesmo?
E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? não fazem os gentios também o mesmo?"
De fato, que mérito pode haver em amar os que te amam, e tratar com doçura os que te afagam?
É o que digo quando falam: "ah, aquele ali é gente boa"... gente boa por gente boa todo mundo é, mas alguns só são com os que lhe interessam. Não vejo honra alguma nisso. É como diz a letra da música Misunderstood do Dream Theater:
"How can I feel abandoned even when the world surrounds me
How can I bite the hand that feeds the strangers all around me
How can I know so many Never really knowing anyone"
Enfim... como amar então mesmo os que porventura não mereciam? Como passar por cima de todo orgulho e instinto de auto-preservação no sentido de fazer o seu dever mesmo que isso vá contra seu instinto, sua transpiração, seus sentimentos? Parece difícil... e é. Mas acredito ser um preço justo a se pagar para obter vitória sobre ações patéticas como rancor, ódio, vingança, remorso, e tantas outras.
A única forma efetiva de exercer isso que já consegui resultados satisfatórios é através da mortificação do ego, da negação do eu. É necessário deixar bem claro que não falo aqui de eliminar todas as suas pretensões, sonhos, direitos ou aspirações na vida; muito pelo contrário. É fazendo isso que é possível nos libertarmos do estigma do egocentrismo e alcançar o mundo e a liberdade consciente.
Só é possível passar a ter ações suficientes no sentido de promover e viver o amor ao próximo e transcender sobre sentimentos baratos como orgulho, martírio e maniqueísmo quando o sentimentalismo, o impulso e a emoção primal são sufocados e postos abaixo da obrigação do cumprimento do dever, que nesse caso, é o exercício da igualdade, do amor e do perdão.
Uma vez que compreendemos isso e mudamos completamente nossa forma de enxergar as coisas, as pessoas e as situações, sobrepondo a realidade sobre nossa compreensão limitada de mundo, somos finalmente capazes de entender com isenção coisas que se encontravam num patamar além do nosso alcance, quando andávamos cercados de ambições, desejos e vontades.
É com o trabalho de suprimir pensamentos, sentimentos e reações emocionais desnecessárias e destrutivas que conseguimos realizar a manutenção em nossa anima (alma, no sentido feminino, sensciente) e passamos a raciocinar e viver apoiados agora no logos (razão), para dessa forma termos condições de exercer o amor ágape, incondicional.
Nas palavras de Carl Gustav Jung tudo se resume:
"O homem civilizado considera-se naturalmente bem acima destas coisas. No entanto, não raro, passa a vida inteira identificado com os pais, com seus afetos e preconceitos, culpando impudicamente os outros pelas coisas que não se dispõe a reconhecer em si mesmo. E guarda também um remanescente da inconsciência primitiva da não-diferenciação entre sujeito e objeto. Por isso mesmo é influenciado magicamente por inúmeros seres humanos, coisas e circunstâncias, isto é, sente-se assediado de modo irresistível por forças perturbadoreas, muito apreciadas como as dos primitivos; do mesmo modo que estes últimos, necessia de encantamentos ou feitiçõs apotropaicos. Ele não manipula mais com amuletos, bolsas medicinais e sacrifício de animais, porém com soporíferos, neuroses, racionalismo, culto da vontade, etc."
(trecho tirado do livro milenar "O Segredo da Flor de Ouro" traduzido do chinês por Richard Wilhelm e comentado por C.G. Jung)
Um comentário:
Postar um comentário