*postado originalmente em 05/11/08
O que a reflexão nos ensina, a observação confirma perfeitamente. O homem selvagem e o homem politizado diferem de tal modo no fundo do coração e nas inclinações, que o que faz a felicidade suprema de um reduziria o outro ao desespero.
O primeiro só respira o repouso e a liberdade; só quer viver e ficar ocioso.
Ao contrário, o cidadão, sempre ativo, sua, agita-se, atormenta-se sem cessar para encontrar ocupações ainda mais laboriosas. trabalha até a morte, corre mesmo em sua direção para se colocar em condições de viver ou renuncia à vida para adquirir a imortalidade; corteja os grandes que odeia e os ricos que despreza; nada poupa para obter a honra de servi-los; gaba-se orgulhosamente de sua baixeza e de sua proteção e, vaidoso de sua escravidão, fala com desdém daqueles que não tem a honra de compartilhá-la.
Essa é, com efeito, a verdadeira causa de todas essas diferenças; o selvagem vive em si mesmo; o homem sociável, sempre fora de si, não sabe viver se não na opinião dos outros e é, por assim dizer, exclusivamente de seu julgamento que tira o sentimento de sua própria existência.
O homem selvagem, quando acabou de comer, está em paz com toda a natureza, e é amigo de todos os seus semelhantes. Se, algumas vezes, tem de disputar o seu alimento, não chega nunca ao extremo sem ter antes comparado a dificuldade de vencer com a de encontrar noutro lugar a sua subsistência; e, como o orgulho não se mistura ao combate, ele termina por alguns socos. O vencedor come e o vencido vai procurar fortuna noutra parte, e tudo está pacificado. Mas, no homem da sociedade, é tudo bem diferente; trata-se, primeiramente, de prover ao necessário, depois, ao supérfluo. Em seguida, vêm as delícias, depois as imensas riquezas, e depois súditos e escravos.
Comparai, sem preconceitos, o estado do homem civilizado com o do homem selvagem, e investigai, se o puderdes, como além da sua maldade, das suas necessidades e das suas misérias, o primeiro abriu novas portas à miséria e à morte. Se considerardes os sofrimentos do espírito que nos consomem, as paixões violentas que nos esgotam e nos desolam, os trabalhos excessivos de que os pobres estão sobrecarregados, a moleza ainda mais perigosa à qual os ricos se abandonam, uns morrendo de necessidades e outros de excessos; se pensardes nas monstruosas misturas de alimentos, na sua perniciosa condimentação, nos alimentos corrompidos, nas drogas falsificadas, nas velhacarias dos que as vendem, nos erros daqueles que as administram, no veneno do vasilhame no qual são preparadas; se prestardes atenção nas moléstias epidémicas oriundas da falta de ar entre multidões de seres humanos reunidos, nas que ocasionam a nossa maneira delicada do viver, as passagens alternadas das nossas casas para o ar livre, o uso de roupas vestidas ou despidas sem precauções, e todos os cuidados que a nossa sensualidade excessiva transformou em hábitos necessários, e cuja negligência ou privação nos custa imediatamente a vida ou a saúde; se puserdes em linha de conta os incêndios e os tremores de terra que, consumindo ou derrubando cidades inteiras, fazem morrer os habitantes aos milhares; em uma palavra, se reunirdes os perigos que todas essas causas acumulam continuamente sobre as nossas cabeças, sentireis como a natureza nos faz pagar caro o desprezo que temos dado às suas lições.
Dessa exposição resulta que a desigualdade, sendo quase nula no estado de natureza, tira sua força e seu crescimento do desenvolvimento de nossas faculdades e progressos do espírito humano, tornando-se enfim estável e legítima pelo estabelecimento da propriedade e das leis.
A mim é suficiente ter provado que esse não é o estado original do homem e que só o espírito da sociedade e a desigualdade que ela engendra modificam e alteram assim todas as nossas inclinações naturais.
"Todo homem nasce bom, a sociedade o corrompe" Jean Jacques Rousseau
...seja hora de repensar os nossos conceitos^^
"We don't need no education
We don't need no thought control
Hey! Teachers! Leave them kids alone!
All in all it's just another brick in the wall"
segunda-feira, 29 de junho de 2009
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